Dieta cetogênica: Pode beneficiar pacientes com Parkinson?

Evidências recentes sustentam o uso da dieta cetogênica no tratamento de distúrbios neurológicos, incluindo a doença de Parkinson. Existem indícios de que a adoção desse programa alimentar pode melhorar os sintomas do Parkinson e a qualidade de vida dos pacientes. Antes de explorarmos as pesquisas, é crucial compreender o que caracteriza a dieta cetogênica.

O que é dieta cetogênica?

A dieta cetogênica é caracterizada por um alto teor de gordura, baixa quantidade de carboidratos e moderação em proteínas, induzindo a cetose nutricional. Esse processo natural ocorre quando o corpo produz energia a partir da gordura, na ausência adequada de glicose. Na falta de glicose, a principal fonte de energia, o corpo passa a produzir corpos cetônicos a partir da quebra das células de gordura. Esses corpos cetônicos são transportados para o cérebro e músculos, assegurando o bom funcionamento do organismo. Para atingir a cetose, a maioria das pessoas precisa consumir menos de 50 gramas de carboidratos por dia.

Pesquisadores indicam que a dieta cetogênica pode contribuir para a redução do metabolismo energético mitocondrial. Na doença de Parkinson, o apoio potencial para esse tipo dieta vem de alguns estudos em humanos.

Eficácia da dieta cetogênica em pacientes com Parkinson

Um estudo realizado em 2018 randomizou 47 pessoas com Parkinson para adotar uma dieta cetogênica ou uma com baixo teor de gordura ao longo de 8 semanas, com o objetivo de avaliar melhorias nos sintomas. Do total, 38 participantes concluíram o estudo. A concentração de cetonas no sangue foi medida diariamente em ambos os grupos. Cada dieta foi planejada para proporcionar quantidade semelhante de calorias e proteínas, com ingestão diária de cerca de 1 grama por quilograma de peso corporal. A dieta cetogênica consistia em 75-80% das calorias totais provenientes de gordura, enquanto a com baixo teor de gordura continha 20-25%.

Resultados: ambos os grupos apresentaram melhorias pequenas, mas significativas, nos sintomas motores e não motores. Os participantes que seguiram a dieta cetogênica experimentaram melhora mais expressiva nos sintomas não motores, especialmente em problemas urinários, dor, fadiga, sonolência diurna e comprometimento cognitivo. O participante médio em ambos os grupos perdeu 4-5 kg, mas permaneceu acima do peso na semana 8.

Limitações: o grupo da dieta cetogênica teve uma exacerbação transitória de tremor e/ou rigidez muscular, levando à desistência de 2 participantes após a semana 1. Esse efeito adverso melhorou ou resolveu em muitos participantes entre as semanas 5 a 8. Os autores especulam que a mudança abrupta na ingestão de gordura pode ter causado esse efeito.

A perda de peso observada pode ter contribuído para a melhoria nos escores motores em ambos os grupos. Além disso, o pequeno tamanho da amostra e o curto período do estudo são limitações importantes. É relevante notar que a dieta cetogênica deste estudo continha apenas 11 gramas de fibra, o que é inadequado.

O segundo estudo, conduzido em 2019, buscou investigar os efeitos de uma intervenção cetogênica com baixo teor de carboidratos no desempenho cognitivo de participantes com comprometimento cognitivo leve associado à doença de Parkinson. Quatorze participantes com Parkinson foram randomizados para uma dieta rica ou pobre em carboidratos ao longo de 8 semanas. Os níveis de cetonas foram medidos nas semanas 2, 4 e 6. Cada dieta proporcionou quantidades distintas de calorias e proteínas, sendo estabelecida uma meta de 20 gramas de carboidratos diários para o grupo de baixo teor de carboidratos.

Resultados: o grupo de baixo teor de carboidratos apresentou melhor desempenho cognitivo em aspectos de capacidade executiva e memória. Não foram observados benefícios para a função motora neste estudo.

Para os adeptos da dieta pobre em carboidratos, houve uma significativa redução na ingestão calórica, refletindo em diminuição no peso e na circunferência da cintura. Em contraste, essas medidas permaneceram inalteradas para os participantes que seguiram a dieta rica em carboidratos.

Limitações: a curta duração e o pequeno tamanho da amostra foram limitações apontadas pelos autores, que também sugeriram que benefícios na função motora poderiam ser observados com uma intervenção mais longa. A mudança no peso corporal observada mostrou forte associação com o benefício cognitivo.

O grupo de baixo teor de carboidratos teve um aumento na ingestão de proteínas em comparação com o valor basal, possivelmente afetando a absorção de levodopa por esses participantes. Ambas as dietas do estudo careciam de fibras, especialmente a dieta pobre em carboidratos, que continha apenas 6,8 gramas de fibra por dia.

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