Tontura na doença de Parkinson

Postado em: 03/05/2024

Tontura é um sintoma extremamente comum relatado por pessoas com doença de Parkinson. Ela pode ser definida como a sensação de girar ou rodar. Além disso, a tontura na doença de Parkinson pode ser secundária a diversas causas, discutidas aqui.

Em geral, a tontura não é muito notada no início da doença. Com o passar dos anos, ela costuma ser mais frequente, e é ainda mais comum em pessoas idosas.

A tontura na doença de Parkinson pode ser contínua: ficar o dia todo incomodando o paciente; ou intermitente: ora vai, ora volta. Ela pode aparecer em algumas posições: deitado, ou em pé, e pode ainda aparecer após a tomada das medicações para o Parkinson.

Causas comuns de tontura no Parkinson e como tratá-las

  1. Hipotensão ortostática: queda persistente da pressão arterial que ocorre ao passar da posição sentada ou deitada para a posição em pé. É muito comum no Parkinson. O paciente te conta que tem tontura, mas na história clínica você nota que ela geralmente aparece após a pessoa ficar em pé.

Isso ocorre porque o paciente com Parkinson tem maior tendência a ter queda de pressão: pela doença em si, pelo uso de remédios para a doença (sim, os remédios para o Parkinson podem reduzir a pressão) e pelo uso de outros remédios (como anti-hipertensivos).

Em casos mais intensos, a pessoa pode inclusive perder a consciência (literalmente desmaiar).

Dicas para queda da pressão no Parkinson (Importante!):

  • Evitar ambientes muito quentes e banho quente;
  • Preferir atividades físicas em que fique sentado, como bicicleta. Exercícios na água são recomendados, incluindo natação;
  • Evitar refeições grandes, principalmente com alto nível de carboidrato. Preferir o fracionamento das refeições;
  • Evitar bebida alcoólica durante o dia;
  • Meta de consumo diário de água: 2,5 Litros (isotônicos valem);
  • Aumentar o sal da dieta;
  • Dormir com a cabeceira elevada 30 a 45 graus (colocar 2 travesseiros);
  • Quando estiver deitado, evitar levantar de uma vez. Permanecer na posição sentada por cerca de 1 minuto, e depois se levantar;
  • Usar meia de compressão até a cintura – que produz uma pressão de 15 a 20mmHg;
  • Utilizar cinta abdominal elástica.

Tais medidas são chamadas não-farmacológicas. São comportamentais. Lembre-se: não necessariamente o paciente precisa fazer tudo. Discuta com seu médico neurologista.

Observação: em alguns casos, usamos medicações como a fludrocortisona, a piridostigmina ou o midodrine.

  1. Tontura induzida por medicamentos: os agonistas da dopamina e a levodopa são os medicamentos mais comuns associados à tontura ou vertigem na DP.

Com a ajuda de seu médico, esse problema relacionado à medicação pode ser tratado com a redução da dosagem e a descontinuação lenta do medicamento ou dos medicamentos que causam o efeito colateral.

Outros medicamentos comuns associados à tontura que não são para o Parkinson incluem: anticonvulsivantes, anti-hipertensivos, antidepressivos e antipsicóticos.

  1. Estimulação cerebral profunda (DBS): o procedimento cirúrgico para Parkinson pode estar associado a tonturas.

Antes de qualquer coisa, precisamos saber se ela surgiu após a cirurgia. O neurologista determina se a tontura é causada pelo dispositivo (pelo aparelho de DBS) simplesmente ligando-o e desligando-o.

Assim que o dispositivo for desligado, você deve ser observado pelo seu cuidador ou equipe médica para confirmar se a tontura desapareceu. Se isso acontecer, o neurologista deverá avaliar os parâmetros da programação, a posição dos eletrodos, etc., ou seja, irá ajustar o aparelho.

Se não for suficiente, uma avaliação otorrinolaringológica completa pode ser necessária.

  1. Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB): tontura repentina ao virar na cama ou tontura que dura apenas alguns segundos. Ela pode ser diagnosticada pela manobra de Dix-Hallpike (realizamos ele em uma maca, fazendo alguns movimentos com a cabeça e verificando a posição dos olhos).

A VPPB é causada por alguns pequenos cristais soltos no labirinto. A manobra geralmente resolve por completo os sintomas, pois expele os cristais nas vias do labirinto.

Uma pesquisa recente revelou que a VPPB pode ocorrer em 11% das pessoas com Parkinson!

  1. Labirintite: muitas pessoas com Parkinson apresentam disfunção do labirinto, que se localiza no ouvido interno. Sabe-se que a popular “labirintite”, que seria uma inflamação do labirinto, é rara. Mas outros problemas do labirinto podem aparecer em quem tem Parkinson.

Nesses casos, o neurologista exclui que o problema é de fato neurológico, e solicita avaliação de um otorrino.

  1. Enxaqueca: sim! Enxaqueca causa tontura em alguns casos.

Chamamos isso de vertigem induzida pela enxaqueca. Na maioria dos casos, tratar a dor de cabeça ou a enxaqueca pode resolver a tontura.

  1. Ataque isquêmico transitório ou derrame: início súbito de tontura, geralmente na presença de outros sinais neurológicos, pode ser um ataque isquêmico transitório (que é um evento em que um vaso no cérebro se fecha e logo em seguida abre) ou mesmo derrame (AVC).

Se houver suspeita de derrame, você deve procurar atendimento médico imediatamente e submeter-se a exames de imagem apropriados.

  1. Outras causas: a tontura pode estar ligada a muitas causas e não são exclusivas do Parkinson. Os sintomas podem ser causados por resfriado, gripe, desidratação, problemas cardíacos e muito mais.

Mensagem: Informe sempre o seu médico se sentir tonturas regularmente. Há diversas causas, e muitas vezes o diagnóstico não é claro. A história detalhada contada pelo paciente é fundamental. Em alguns casos, manobras, exames, ou avaliação do otorrino pode ser necessários. Em outros, medidas comportamentais e ajuste de medicações já resolvem o problema.

Fontes:

  1. Van Wensen E et al. Benign paroxysmal positional vertigo in Parkinson’s disease. Parkinsonism Relat Disord.
  2. Zeigelboim BS et al. Vestibular rehabilitation: clinical benefits to patients with Parkinson’s disease. Arq Neuropsiquiatr.

Dr. Rubens Giberty
Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores
CRM-SP 131445

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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Dr. Rubens Cury Neurologista
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