Nem todo Parkinson tem tremor, e nem todo tremor é Parkinson!
Postado em: 29/05/2024
A doença de Parkinson acomete cerca de 7 milhões de pessoas em todo mundo, e sua incidência na população vem aumentando nos últimos anos.
Se perguntarmos para uma pessoa na rua: “O que a doença de Parkinson te lembra?”
Muito provavelmente ela responderá, sem hesitar: “o Tremor!”
O nosso cérebro trabalha muito com memórias visuais. Muitas vezes associamos memórias às experiências visuais. E isso ocorre com as pessoas quando são questionadas sobre o que é a doença de Parkinson: como já presenciaram alguém que tem Parkinson tremendo, como um parente, um conhecido, ou mesmo na televisão, é normal que essa seja a sua lembrança -> Tremor = Parkinson.
Mas nem todo Parkinson tem tremor e nem todo tremor é Parkinson!
Atenção: 25% das pessoas com Parkinson não têm tremor! Ou seja, a cada 4 pessoas com doença de Parkinson, uma não apresenta e não apresentará tremor em toda sua caminhada com a doença.
As pessoas que não têm tremor têm os outros sintomas da doença: lentidão dos movimentos, rigidez, dificuldade para caminhar, escrever, mas não tem tremor.
Além disso, o que observamos na nossa prática, é que essas pessoas sem tremor demoraram mais para ter o seu diagnóstico.
E o que causa a doença de Parkinson?
Em síntese, a doença é causada por uma redução na produção de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor cerebral que orquestra nossos movimentos como andar, escrever e falar.
A dopamina é produzida em uma região central do cérebro chamada Substância Negra, e a redução da sua produção leva a sintomas específicos:
- Bradicinesia: distúrbio caracterizado pela lentidão dos movimentos na iniciação e execução de atos motores voluntários e automáticos.
- Rigidez: anormalidade motora presente em pacientes com Parkinson. Trata-se de uma resistência maior quando movimentamos a articulação dos membros; por exemplo, há maior rigidez na articulação do cotovelo, punho, pescoço e joelho.
- Tremor parkinsoniano: clinicamente descrito como sendo de repouso (com o braço parado em cima da mesa, ou no braço da cadeira, ou em repouso sobre a coxa), exacerbando-se durante a marcha, no esforço mental e em situações de tensão emocional.
A grande questão é que os pacientes que não apresentam tremor podem ter seu diagnóstico demorado, pois sintomas de lentidão e rigidez podem simular outras doenças, como artrite, artrose, doenças musculares, reumatológicas, fraqueza, etc…de tal maneira que esse paciente leva tempo para chegar em um neurologista especialista em Parkinson.
Quais outros sintomas a pessoa com Parkinson pode ter?
Além dos sintomas discutidos acima, como lentidão, rigidez e tremor, outros sintomas podem ajudar no diagnóstico da doença.
Sim, precisamos analisar vários sintomas muitas vezes para chegar no diagnóstico correto, pois o diagnóstico é clínico e às vezes não é óbvio.
Em suma, é um quebra-cabeça, que juntamos as peças para chegar em uma conclusão adequada.
Veja outras possíveis manifestações do Parkinson:
Sintomas motores
- Desequilíbrio
- Redução do volume da voz
- Dificuldade para engolir
- Marcha de pequenos passos, lenta
- Micrografia (redução do tamanho da letra)
- Postura flexionada para frente
Sintomas não motores
- Hiposmia (redução do olfato)
- Alteração cognitiva, desatenção
- Hipotensão ortostática (queda da pressão arterial quando fica em pé)
- Dor
- Alucinações visuais
- Distúrbios do sono
- Transtorno do Controle dos Impulsos (impulsividade)
- Problemas gastrointestinais (intestino preso)
- Disfunções sexuais e urinárias
Como é feito o tratamento?
Embora não exista cura, diversas medicações, além da atividade física, ajudam a controlar os sintomas da doença de Parkinson em boa parte dos pacientes.
O tratamento da doença de Parkinson é multidisciplinar, e envolve a participação do neurologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. O tratamento medicamentoso é sintomático, ou seja, visa aliviar os sintomas típicos da doença.
As medicações têm como objetivo aumentar a dopamina no cérebro, o que acarreta a melhora dos sintomas. A levodopa, sintetizada na década de 60, ainda é considerado o tratamento mais efetivo e globalmente utilizado no Parkinson.
Além da levodopa, outras medicações são utilizadas. O objetivo sempre é o mesmo: aumentar a oferta dopaminérgica cerebral.
Além de medicamentos, há evidências de que a prática de atividade física pode ser protetora na doença de Parkinson. Isso quer dizer que quem faz atividade física, em especial atividade aeróbica, tem um curso melhor da doença. Recomendamos atividade física desde o início da doença. Não há uma atividade específica: caminhada, bicicleta, natação, entre outros são recomendados.
Em casos selecionados, a cirurgia de estimulação cerebral profunda pode ser realizada. O procedimento (conhecido como “marcapasso cerebral”) consiste na colocação de um pequeno eletrodo na região do cérebro afetada pela doença, de tal forma que ela possa ser estimulada de forma contínua, aliviando os sintomas.A cirurgia é indicada a pacientes que tenham pelo menos 4 anos completos do início dos sintomas parkinsonianos, e apresentam sintomas que comprometam a qualidade de vida a despeito do tratamento medicamentoso otimizado. Mesmo nos pacientes que não tem tremor ela pode ser muito benéfica, pois reduz os sintomas de lentidão e rigidez.
Atenção: nem todo tremor é Parkinson!
Tremor é um sintoma muito comum, que pode aparecer em diversas doenças, incluindo doenças não neurológicas.
Por exemplo, hipertireoidismo, problemas no fígado, rim, podem levar a tremor.
Uso de medicações, estimulantes, hormônios, também podem levar a tremor.
Doenças neurológicas como Tremor Essencial, Distonia, também podem levar a tremor.
O que abordamos no dia a dia é qual o tipo de tremor, como ele aparece, como ele piora, quais regiões acometidas, etc… Essas informações são essenciais para ajudar no “quebra-cabeça”, pois tremor pode ser muitas coisas.
O tremor da doença de Parkinson costuma aparecer em repouso, com os braços relaxados. Mas nem sempre tremor de repouso é Parkinson!
Embora seja um sintoma comum, o tremor pode ocorrer em diversas condições, neurológicas e não neurológicas. Mais do que avaliar o tremor, avaliamos todos os possíveis sintomas associados.
Quando preciso, utilizamos exames de sangue, ressonância e eletroneuromiografia para ajudar. O diagnóstico correto é a chave para o tratamento ter sucesso.
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).
Dr. Rubens Giberty
Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores
CRM-SP 131445]
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445