Doença de Parkinson e Poluição: O que respiramos importa?

Postado em: 09/08/2021

Resultados de um novo estudo identificaram uma associação entre o risco de desenvolver doença de Parkinson e a exposição ao dióxido de nitrogênio (NO2), que é um poluente liberado na atmosfera como resultado da queima de combustíveis. 

Esses achados alertaram os cientistas: teríamos uma oportunidade para aplicar estratégias de prevenção da doença de Parkinson na população? 

A Poluição do Ar e o desenvolvimento de doenças

Antes de mais nada, sabemos que a poluição atmosférica é uma questão preocupante por afetar a população mundial em grande escala.

Um desses poluentes mais conhecidos é o dióxido de nitrogênio, o NO2.

Ele é proveniente da queima de combustível no motor de carros ou em fornos industriais, onde geralmente a temperatura é muito elevada. O composto pode agravar os sintomas respiratórios de quem tem asma e bronquite. 

O que até hoje ninguém sabia, é que sua exposição também poderia elevar o risco de desenvolver doença de Parkinson.

O Estudo

No estudo publicado na prestigiada revista JAMA Neurology, cientistas da Coreia do Sul analisaram dados de 78.830 residentes da capital Seul, e identificaram uma associação entre a exposição ao NO2 e o risco de desenvolver Parkinson. 

Os participantes tinham ≥ 40 anos de idade (média de 54,4 anos) e não apresentavam Parkinson no início do estudo. 

Assim, durante o período de acompanhamento de 9 anos, 338 participantes receberam o diagnóstico de Parkinson; esse grupo de participantes era significativamente mais velho (idade média de 66,5 anos) do que o grupo sem Parkinson (idade média de 54,4 anos). 

O grupo de participantes que desenvolveu Parkinson também apresentou maior probabilidade do que os demais participantes de apresentar comorbidades pré-existentes, incluindo pressão alta, diabetes mellitus e colesterol elevado.

Além disso, os pesquisadores analisaram a exposição a poluentes atmosféricos baseados no bairro em que as pessoas moravam; eles analisaram a qualidade do ar da região e a quantidade de cada poluente. 

Claramente a exposição a maiores níveis de NO2 foi associada a um aumento no risco de Parkinson. Nenhuma associação significativa entre a exposição e o risco de Parkinson foi identificada para os outros poluentes.

De forma interessante, não apenas a exposição ao NO2 esteve associada ao desenvolvimento de doença de Parkinson. A presença de comorbidades pré-existentes como pressão alta, diabetes mellitus, colesterol elevado também.

Quais as implicações e reflexões sobre esse estudo?

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Mesmo após mais de 200 anos da sua descrição, em 1817 pelo médico inglês James Parkinson, a causa da doença de Parkinson ainda levanta debates, e no geral temos mais perguntas do que respostas, conforme discutido previamente

Fatores ambientais como traumatismo craniano, exposição a pesticidas, baixo nível de ácido úrico e alto consumo de laticínios foram associados a maior risco de uma pessoa desenvolver Parkinson. 

Dessa forma, esse estudo agora traz à cena um novo ator: a poluição atmosférica.

A poluição do ar ambiente causada pela atividade industrial, veículos motorizados e desastres naturais pode ser um dos fatores para o desenvolvimento não só do Parkinson, mas de outras doenças neurodegenerativas como as demências. 

As evidências atuais sugerem que a exposição à poluição do ar tem um efeito negativo na saúde do cérebro. Por meio dessas observações, podemos supor que doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson, podem se desenvolver ao longo de muitos anos como resultado de ambientes poluídos e, como tal, podem ser prevenidas. 

Nesse sentido, políticas públicas de saúde e comprometimento com o meio ambiente devem um dos focos da população mundial nos próximos anos.

Fonte

Jo, S. et al. Association of NO2 and other air pollution exposures with the risk of Parkinson disease. JAMA Neurol.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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