Cirurgia de Parkinson: quando fazer?

Postado em: 21/10/2021

O tema da doença de Parkinson tem preocupado os especialistas devido ao envelhecimento da população e aumento de casos. 

No Brasil, a estimativa é de que existam cerca de 600 mil pessoas com a doença. Houve um aumento da incidência dos casos nas últimas décadas em todo mundo, muito provável devido a fatores ambientais.

Portanto, este tema precisa ser amplamente discutido. 

Você sabia que uma das possibilidades de tratamento para doença de Parkinson é a intervenção cirúrgica?

Hoje vamos te informar quando este tratamento é indicado e como é realizado.

Acompanhe!

O que é a doença de Parkinson?

A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa com maior prevalência em todo o mundo, afetando cerca de 2% da população acima dos 60 anos, e no total 7 milhões de pessoas.

Ela é caracterizada como um distúrbio neurológico do movimento e é causada pela redução celular dos neurónios produtores do neurotransmissor dopamina no cérebro.

Deste modo, compromete a transmissão da informação do nosso cérebro para os membros superiores e inferiores, levando a dificuldade nos movimentos realizados.

Os principais sintomas são lentidão dos movimentos e tremor durante o repouso. Os sintomas são assimétricos, ou seja, começam de um lado do corpo e sempre ficam pior de um lado que o outro.

Outros sintomas são observados, como alteração da escrita, dificuldade de marcha, desequilíbrio, redução do volume da voz, dificuldade durante o sono, intestino preso e redução do olfato.

Quando a cirurgia é indicada para a doença de Parkinson?

Os tratamentos para a doença de Parkinson possuem três vertentes:

  • Medicamentoso;
  • Reabilitação;
  • Cirurgia.

Na prática, temos que pensar em cirurgia para Parkinson quando o paciente, apesar do uso adequado das medicações, não está com seus sintomas controlados. 

Ou seja, mesmo fazendo o uso adequado do esquema medicamentoso prescrito pelo neurologista, ainda apresenta episódios de rigidez, lentidão e tremor que incomodam seu dia a dia.

Há dois critérios bem estabelecidos para um paciente se beneficiar da cirurgia.

Entre eles, temos:

  1. O paciente deve ter pelo menos 4 anos de tempo de doença. Ou seja, não devemos indicar a cirurgia precocemente, justamente porque nesse período a pessoa está bem.
  2. O paciente deve estar fazendo o tratamento medicamentoso de forma correta, e mesmo assim ter sintomas que prejudicam sua qualidade de vida, como movimentos involuntários (chamadas discinesias), Off (período de travamento importante e rigidez) ou tremor de repouso.

Além dos critérios acima citados, sempre fazemos uma avaliação neuropsicológica para avaliar raciocínio e sintomas de depressão, que devem ser controlados antes da cirurgia.

Também avaliamos a resposta à levodopa: sabemos que os pacientes que respondem bem à levodopa são bons candidatos à cirurgia.

A indicação é discutida entre o neurologista, o paciente, a família e o neurocirurgião. É uma decisão em conjunto.

Importante ressaltar que nem todos os pacientes com Parkinson irão se beneficiar da cirurgia. Há pacientes que ficam bem controlados com remédios, e não necessitam da cirurgia. Por outro lado, há pacientes em que o risco cirúrgico é alto, portanto ela não pode ser feita. Assim, a indicação do DBS deve ser discutida com seu médico neurologista; ela é individualizada.

Quais sintomas a cirurgia melhora na doença de Parkinson?

A Estimulação Cerebral Profunda ou DBS tem como grande objetivo melhorar a qualidade de vida do paciente. 

Conforme discutido, quando um paciente é candidato a cirurgia, ele apresenta sintomas que estão impactando na sua funcionalidade, como a rigidez, a lentidão, os tremores e os movimentos involuntários. E são esses sintomas que a cirurgia no geral melhora. 

Sintomas que a cirurgia melhora:

·  Tremor (embora nem todos pacientes têm tremor);

·  Lentidão dos movimentos: caminhar, se trocar e realizar higiene pessoal;

·  Discinesias: movimentos involuntários.

Sintomas que a cirurgia pode melhorar:

·  Sono: em especial quando o problema de dormir é relacionado ao Parkinson, como rigidez e dificuldade em virar-se na cama, a cirurgia costuma ajudar bastante;

·  Dor relacionada ao Parkinson: dores que aparecem em OFF, quando o remédio está acabando, no geral são aliviadas pela cirurgia.

Sintomas que a cirurgia no geral não melhora:

·  Alteração da fala (volume da voz baixa). Pode melhorar, pode não mudar nada, e em alguns casos pode piorar um pouco depois da cirurgia. Cabe aqui uma discussão com seu médico;

·  Depressão, esquecimentos, intestino preso, alteração urinária (como urgência urinária);

·  Desequilíbrio, quedas: pacientes que tem muita instabilidade postural, com quedas frequentes, não são bons candidatos à cirurgia;

·  Postura muito encurvada para frente ou para o lado: tem pacientes que melhoram, mas definitivamente não é regra.

Como é o procedimento cirúrgico para doença de Parkinson?

A cirurgia terá como objetivo o controle dos tremores, lentidão e movimentos involuntários do paciente. 

O procedimento é conhecido como Estimulação Profunda Cerebral e também conhecido como DBS (Deep Brain Stimulation). 

Trata-se de um procedimento cirúrgico em que são implantados um ou mais eletrodos em regiões específicas do encéfalo.

Os eletrodos são conectados a um tipo de gerador, uma bateria similar a um marcapasso, chamado de neuroestimulador. 

Sua função será estimular regiões específicas do cérebro que melhoram os sintomas da doença de Parkinson. 

A cirurgia de DBS é realizada, normalmente, com o paciente acordado.

Isso porque, durante o procedimento do implante, o paciente pode ser examinado por meio de estimulações transitórias, antes do implante definitivo dos eletrodos, de modo a otimizar o efeito clínico. 

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Agora você já sabe mais sobre a cirurgia como uma opção de tratamento da doença de Parkinson

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Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França. É também responsável pelo ambulatório de Estimulação Cerebral Profunda do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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