Como é feito o tratamento com remédios para a doença de Parkinson

Postado em: 06/05/2024

A doença de Parkinson afeta cerca de 8 milhões de pessoas no mundo, e tem uma tendência de crescimento nos próximos anos.

Fatores ambientais e genéticos estão envolvidos no desenvolvimento do Parkinson, embora a causa específica ainda seja incerta.

O que sabemos até agora?

Sabemos que o principal fator que leva aos sintomas da doença (lentidão, tremor e rigidez) é uma redução na produção de dopamina no cérebro. Mais especificamente em uma região do cérebro chamada substância negra. 

A queda da produção de dopamina é progressiva. É lenta, mas é progressiva. Não é que a pessoa com Parkinson fica sem produzir nada de dopamina, mas ela produz menos que uma pessoa sem Parkinson.

E como já discuti outras vezes, a dopamina é essencial para os nossos movimentos: locomoção, movimentos finos, realizar hábitos como vestir-se, alimentar-se, etc…

É intuitivo, portanto, imaginarmos que o tratamento da doença tenha como base repor dopamina

Como repor a dopamina?

Não tem outra forma, a não ser com medicações. O tratamento medicamentoso teve início em 1970, com o lançamento da Levodopa. Foi revolucionário na época, pois não tínhamos até então como repor a dopamina, e as pessoas com a doença pioravam progressivamente.

Hoje temos 5 classes de remédios para tratar a doença de Parkinson. Em cada classe, tem uma quantidade X de remédios disponíveis. Costumo dizer aos pacientes que é como se tivéssemos 5 gavetas (classes) e em cada gaveta eu tivesse algumas opções de remédios.

Vou brevemente discutir as 5 gavetas com vocês:

doença de Parkinson

1ª Gaveta: a Levodopa

A levodopa é o principal tratamento para a doença de Parkinson. Ela é a precursora da dopamina.

Isso não quer dizer que todos os pacientes necessitem dela. A introdução e a dosagem dependem de cada caso.

Temos no Brasil duas formulações: A Levodopa+Carbidopa (nome comercial Parkidopa) e a Levodopa+Benserazida (Prolopa).

Uma vantagem do Prolopa é que temos 5 formulações no mercado:

Prolopa 200/50mg e Prolopa 100/25mg (BD): São formulações padrão, e tem uma liberação relativamente rápida. O efeito dura em média de 3 a 6 horas, a depender do paciente. É o mais utilizado para o tratamento dos sintomas diurnos do Parkinson.

Prolopa 100/25mg HBS: Liberação lenta. É uma cápsula. Usamos geralmente a noite para melhorar os sintomas noturnos do paciente. É um prolopa mais fraco, e dura em média 8h.

Prolopa 200/50mg DR: Liberação lenta, porém mais forte que o HBS. Utilizamos ele de dia ou à noite.

Prolopa 100/25mg dispersível: Liberação super-rápida, em questão de 15 a 20 minutos já há efeito. Mas o efeito é curto. Usamos como resgate: quando o paciente entra em OFF (fica lento), seja ao acordar, seja ao longo do dia, utilizamos o dispersível. Ele é diluído em 100ml de água e ingerido.

Para facilitar, cada Prolopa tem uma cor, pois é fundamental o paciente nunca confundir o que foi passado pelo médico:

Prolopa BD         Prolopa HBS              Prolopa DR           Prolopa Dispersível              Prolopa  Padrão

imagens que representa as cores da prolopa
Imagem que representa a prolopa em remédios - doença de Parkinson

Portanto pessoal, vejam que na gaveta “Levodopa” temos 5 opções de Prolopa e uma opção de Parkidopa. Portanto, 6 remédios nessa gaveta.

Principais efeitos colaterais que temos que ficar atentos:

Náuseas, queda da pressão e sono.

2ª Gaveta: os Agonistas Dopaminérgicos

Os agonistas são amplamente utilizados para tratar o Parkinson. Entre eles temos o Pramipexol (Sifrol, Pisa, Minergi, Quera LP, Stabil) e a Rotigotina (Neupro).

Eles se ligam ao receptor de dopamina e produzem um efeito benéfico, melhorando a lentidão e o tremor. Eles têm um efeito mais duradouro que a Levodopa, portanto são uma boa estratégia.

Lembrem que é normal a associação de mais de uma classe para tratar o Parkinson. São armas diferentes, portanto quando se unem, consegue um resultado melhor que uma arma sozinha. Logicamente avaliamos caso a caso, e muitos pacientes ficam bem apenas com uma classe.

Principais efeitos colaterais que temos que ficar atentos:

Sonolência e impulsividade (compulsão por compras, jogos, etc…)

3ª Gaveta: os Inibidores da MAO

O conceito é simples: temos uma enzima no cérebro chamada MAO. Ela degrada uma parte da dopamina que produzimos. Em quem não tem Parkinson isso não tem problema.

Porém, em que tem Parkinson, como sabemos, a produção da dopamina está reduzindo. Sendo assim, não é interessante eu ter uma enzima que destrói parte da dopamina. Faz sentido?

Os inibidores da MAO inativam essa enzima, e ela para de degradar e destruir a dopamina.

Vale ressaltar que no geral são medicações mais fracas que a levodopa e os agonistas, mas usamos frequentemente. Os principais inibidores da MAO são a Rasagilina (Azilect), a Safinamida (Xadago) e a Selegilina (Niar).

Principais efeitos colaterais que temos que ficar atentos:

Hipotensão – queda da pressão arterial. Mais comumente observado de manhã, como uma sensação de tontura. No geral, os IMAOs são bem tolerados.

4ª Gaveta: os Inibidores da COMT

Segue a linha dos inibidores da MAO. A COMT é uma enzima que também degrada a dopamina. Os inibidores da COMT ajudam a reduzir a destruição em especial da levodopa, prolongando o seu efeito. Usamos o Entacapona (Contam ou Entarkin).

Principais efeitos colaterais que temos que ficar atentos:

A urina pode mudar de cor, ficar alaranjada. Os inibidores da COMT são bem tolerados, mas podem piorar os movimentos involuntários (discinesias).

5ª Gaveta: Antagonistas do receptor de glutamato

Nessa gaveta temos apenas a Amantadina. Ela é usada principalmente para as chamadas discinesias, que são movimentos involuntários na doença de Parkinson. Portanto é apenas para uma parte dos pacientes.

Principais efeitos colaterais que temos que ficar atentos:

A Amantadina pode dar edema de membros inferiores (inchar a perna).

No vídeo abaixo explico os conceitos discutidos:

Quais mensagens vocês devem levar?

1º O objetivo de explicar à pessoa com Parkinson as funções dos remédios é ela entender o que vem sendo feito, o racional, o porquê de estar tomando X ou Y medicamento. Isso é melhor para a aderência.

2º Não existe uma receita de bolo. De centenas ou milhares de pacientes com Parkinson que acompanhamos, dificilmente alguém tomará exatamente a mesma dose de medicação, no mesmo horário, pois a terapia é individualizada. Varia conforme o trabalho da pessoa, o horário que ela acorda e dorme, as refeições, os sintomas, os efeitos colaterais, o uso de remédios para outras doenças…

3º O Tratamento da doença de Parkinson tem dois pilares: atividade física, alimentação balanceada, controle clínico (colesterol, pressão, glicose..) + medicações adequadas. Em alguns casos, DBS. 

Discuta com seu médico seus sintomas e os efeitos das medicações. Ajustes são periodicamente necessários. Mantenha-se firme e siga em frente.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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