Os sintomas não-motores da doença de Parkinson

Postado em: 21/10/2021

A doença de Parkinson classicamente acomete o sistema motor da pessoa, levando a alteração da velocidade dos movimentos (lentidão), rigidez muscular e tremor, geralmente na mão. A população geral, de fato, conhece o Parkinson como uma doença em que a pessoa tem sintomas motores, em especial o tremor de repouso.

Sintomas motores da doença de Parkinson

  • Desequilíbrio
  • Redução do volume da voz
  • Dificuldade para engolir
  • Marcha de pequenos passos, lenta
  • Micrografia (redução do tamanho da letra)
  • Postura flexionada para frente

Porém, o que muitos não sabem, é que os chamados sintomas não-motores também fazem parte da doença. 

Sintomas não-motores da doença de Parkinson

E por que os sintomas não-motores ocorrem?

Vamos lembrar que a doença de Parkinson é causada por um depósito anormal de uma proteína no cérebro, chamada de alfa-sinucleína. 

O que sabemos hoje, é que esse depósito acomete áreas cerebrais relacionadas a outras funções além das motoras, como áreas relacionadas à nossa motivação (levando a depressão e a fadiga), áreas relacionadas ao controle urinário (podendo levar a urgência urinária), áreas responsáveis pela dor, etc..

Além de áreas cerebrais, a alfa-sinucleina acomete regiões fora do cérebro, como o bulbo olfatório (levando à redução do olfato, ou hiposmia) e o intestino, levando à constipação.

No vídeo abaixo detalho um pouco mais os sintomas não-motores:

https://www.youtube.com/watch?v=b73pE3Seomc

Alguns exemplos de sintomas não-motores da doença de Parkinson:

1. A fadiga é um dos sintomas mais comuns em pacientes com doença de Parkinson. A pessoa se sente desmotivada, cansada e sem vontade de fazer suas atividades cotidianas.

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2. Alterações do sono são extremamente frequentes e podem impactar muito a qualidade de vida de quem tem Parkinson. A principais alterações encontradas são:

Fragmentação do sono: A pessoa com Parkinson pode acordar diversas vezes ao longo da noite, o que chamamos de sono fragmentado. Em muitas situações, isso pode ocorrer pois há redução da dopamina à noite (já que as pessoas com Parkinson tomam a maioria dos remédios de dia), o que aumenta a rigidez e atrapalha o sono do paciente. 

Noctúria: Pode haver aumento da frequência da urina à noite, o que chamamos de noctúria. A pessoa chega a ir 3 a 4 vezes ao banheiro à noite, o que atrapalha seu sono. 

Insônia: Muitos pacientes simplesmente não conseguem pegar no sono. Eles ficam na cama tentando dormir, em vão; pode haver ansiedade associada, e essa deve ser abordada; pode haver lentidão dos movimentos nesse momento, e medicações dopaminérgicas devem ser otimizadas. 

Distúrbio Comportamental do sono REM: Muitas pessoas com doença de Parkinson apresentam sonhos vívidos, podendo gritar à noite, mexer os braços e as pernas, inclusive dando socos e chutes; isso chamamos de Distúrbio Comportamental do Sono REM

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3. A dor afeta entre 40 a 85% dos pacientes com doença de Parkinson. Em um estudo realizado pelo nosso grupo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, 70% dos pacientes apresentavam dor. A dor no geral afeta o lado mais comprometido pela doença; por exemplo, em pacientes cujo tremor e rigidez estão presentes no lado direito do corpo, a dor costuma afetar o ombro, ou a perna desse mesmo lado. 

4. Intestino preso (ou constipação) e alterações gastrointestinais são extremamente comuns na doença de Parkinson, em todas as fases da doença. Aproximadamente 60 a 80% dos pacientes com Parkinson apresentam sintomas gastrointestinais.

Eles já podem estar presentes na doença de Parkinson antes de o paciente apresentar tremor e lentidão. Isso mesmo, às vezes o intestino preso aparece anos antes e somente após esse tempo a pessoa desenvolve Parkinson. 

5. Tontura é um sintoma extremamente comum relatado por pessoas com doença de Parkinson. A tontura pode ser definida como a sensação de girar ou rodar. A tontura na doença de Parkinson pode ser secundária a diversas causas, como queda da pressão arterial, efeito colateral de medicamentos, labirintite e vertigem posicional paroxística benigna. 

Tontura

6. A sialorréia, comumente referida como excesso de salivação, é uma manifestação neurológica comum de muitas doenças neurológicas, incluindo paralisia cerebral, doença de Parkinson e esclerose lateral amiotrófica. 

Babar pode ser uma complicação muito debilitante da doença de Parkinson, e é uma das queixas mais comuns dos pacientes.

A hipersalivação, que pode fazer o paciente babar, é muito problemática e pode causar constrangimento, isolamento social, depressão, infecção de pele, mau cheiro e pneumonia por aspiração. Muitas vezes utilizamos medicações ou mesmo toxina botulínica, o Botox, para aliviar a hipersalivação.

Outros sintomas como ansiedade, redução do olfato, depressão, sudorese excessiva e câimbras também são frequentes. O melhor remédio para os sintomas não-motores é a informação, pois a história contada pelo paciente ao médico é fundamental, já que no geral não enxergamos os sintomas não-motores, embora possam compor a maior parte do seu Iceberg.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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