Principais Alterações do Sono na doença de Parkinson
Postado em: 09/08/2021
A doença de Parkinson classicamente acomete o sistema motor da pessoa, levando a alteração da velocidade dos movimentos (lentidão), rigidez muscular e tremor, geralmente na mão.
A pessoa com doença de Parkinson também pode ficar com a fala mais baixa, a escrita menor e o andar mais devagar, com passos reduzidos e postura fletida (tronco inclinado para frente).
Contudo, o que muitos não sabem, é que algumas pessoas com Parkinson também podem ter alterações além das motoras, conhecidas como sintomas não-motores. Dentre esses, alterações do sono são extremamente frequentes, e podem impactar muito a qualidade de vida.
Dessa forma, os sintomas não-motores devem ser reconhecidos pelo médico neurologista e adequadamente tratados.
Quais são as alterações do sono no Parkinson?
1. Fragmentação do sono
A pessoa com Parkinson pode acordar diversas vezes ao longo da noite, o que chamamos de sono fragmentado.
Em muitas situações, isso pode ocorrer pois há redução da dopamina à noite (já que as pessoas com Parkinson tomam a maioria dos remédios de dia), o que aumenta a rigidez e atrapalha o sono do paciente. Como ocasionalmente há dificuldade em se virar na cama, a pessoa fica acordando incomodada.
Assim, nesses casos, a melhor estratégia é utilizar medicações dopaminérgicas de liberação lenta, pois elas permitem uma cobertura da dopamina ao longo de todo período de sono.
2. Noctúria
Pode haver aumento da frequência da urina à noite, o que chamamos de noctúria.
A pessoa chega a ir 3 a 4 vezes ao banheiro à noite, o que atrapalha seu sono!
Isso ocorre porque no Parkinson ocorre um fenômeno chamado de bexiga hiperativa, na qual há aumento da contração da bexiga de forma desproporcional, fazendo com que o paciente tenha mais vontade de ir ao banheiro.
Há medicações específicas para esse cenário, as quais utilizamos amplamente no dia a dia.
3. Insônia
Muitos pacientes simplesmente não conseguem pegar no sono.
Eles ficam na cama tentando dormir, em vão; pode haver ansiedade associada, e essa deve ser abordada; pode haver lentidão dos movimentos nesse momento, e medicações dopaminérgicas devem ser otimizadas;
Além disso, pode correr também o que chamamos de Síndrome das Pernas Inquietas, em que a pessoa tem uma sensação de incômodo nas pernas, às vezes uma espécie de formigamento, inquietude, que só melhora quando ela levanta e anda.
Há medicações e medidas comportamentais efetivas para Pernas Inquietas.
4. Sonhos vívidos/ Distúrbio Comportamental do sono REM
Muitas pessoas com doença de Parkinson apresentam sonhos vívidos, podendo gritar à noite, mexer os braços e as pernas, inclusive dando socos e chutes; isso chamamos de Distúrbio Comportamental do Sono REM.
Sono REM é justamente a fase do nosso sono em que sonhamos. Uma pessoa sem Parkinson, nesse momento do sonho, fica parado, imóvel, dormindo.
Na pessoa com Parkinson, há uma alteração nas células que deixam nós imóveis durante o sonho, e assim a pessoa vivencia o sonho.
Na prática, a grande maioria das pessoas não se lembra dos eventos. Ela acorda sem se lembrar do que aconteceu, ao passo que o seu acompanhante – a esposa ou o marido – muitas vezes acordam assustados, e tem um grande incômodo ao longo do tempo.
Geralmente, cabe ao neurologista orientar o paciente e o familiar que isso é parte dos sintomas do Parkinson, e que em alguns casos, um tratamento específico para o Distúrbio Comportamental do Sono REM pode ser feito.
5. “Travamento” matinal/ Sonolência de dia
Muitos pacientes podem até ter uma noite de sono tranquila, mas acordam com muita rigidez, “travados”, com dificuldade de levantar-se.
Em síntese, isso ocorre porque o tempo que passou desde a última medicação foi longo, algumas horas, pois foi dada na noite anterior.
Paralelamente, muitos pacientes podem ficar com muito sono ao longo do dia. Isso ocorre por dois motivos: i) a noite de sono não foi boa, e ii) alguns remédios para a doença de Parkinson podem dar sonolência.
Ambos os problemas acima podem ser amenizados com abordagem clínica adequada.
As alterações de sono na doença de Parkinson são extremamente comuns, afetando mais de 50% dos pacientes. Entre elas, sono fragmentado, noctúria, insônia, sonhos vívidos, distúrbio comportamental do sono REM, rigidez matinal e sonolência excessiva de dia são as mais frequentes. Para cada alteração há um tratamento específico, que deve ser discutido entre o médico e o paciente/ familiar.
Como melhorar a rotina do sono?
Além das abordagens específicas discutidas acima, outras medidas simples podem ajudar a pessoa com Parkinson:
- Mantenha uma rotina de sono. Procure deitar-se e levantar-se sempre no mesmo horário todos os dias, incluindo finais de semana. Importante seu organismo ter esse “relógio interno” sobre o seu hábito.
- Evite o excesso de consumo de bebidas que contenham cafeína, como café, chás e refrigerantes a base de cola, principalmente após as 16h.
- Evite o consumo de bebidas alcoólicas, em especial após as 18h. Elas geralmente atrapalham a qualidade de sono.
- Crie no seu quarto um ambiente relaxante e que induz o sono. Mantenha-o escuro, silencioso, com temperatura agradável. Use roupas confortáveis para dormir.
- Evite estímulos visuais com luzes artificias! Deixe de lado a TV antes de dormir, computador, celular, e materiais relacionados ao trabalho. Prefira um bom livro.
- Se você apresenta dificuldade para dormir a noite, evite sonecas ao longo do dia, em especial com mais de 30 minutos. Isso permitirá que esteja cansado e durma melhor durante a noite.
- Reduza o consumo de alimentos gordurosos e pesados antes de se deitar, pois pode atrapalhar a digestão e agravar a insônia.
- Pratique atividades físicas regularmente. Há estudos evidenciando que a prática de atividades físicas melhora a qualidade do sono de quem tem Parkinson. Isso é super importante. Tente praticar atividades físicas pelo menos 3 horas antes de se deitar ou pela manhã.
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445