Parkinson: fique atento aos sinais que antecedem os tremores
Postado em: 23/11/2021
A doença de Parkinson foi descrita há mais de 200 anos e estima-se que cerca de sete milhões de pessoas em todo o mundo são acometidas por ela. Esse número deve dobrar nas próximas duas décadas.
Ela afeta cerca de 0,3% da população geral e 1% a 2% da população acima dos 60 anos.
A doença de Parkinson é conhecida por causar tremor de forma progressiva se não for tratada de forma adequada.
A doença sempre inicia-se de forma assimétrica, isto é, de um lado do corpo.
Por exemplo: a pessoa começa a notar que a mão direita está com um leve tremor quando o braço está em repouso (quando o braço está em repouso em cima de uma mesa, ou em cima da sua coxa, ou no braço da cadeira, ou quando a pessoa está em pé com os braços relaxados).
O que muitos não sabem, é que além do tremor, há sintomas sutis que vem junto ou mesmo precedem o surgimento do tremor. Esses sinais serão discutidos aqui.
Sintomas motores que podem surgir antes do tremor
1. Meses ou mesmo anos antes do tremor aparecer, algumas pessoas referem que a letra fica menor.
Em especial, quando a pessoa escreve bastante, ela nota que a letra, ao passo que ela vai escrevendo, vai ficando menor. Chamamos isso de micrografia.
Vale mencionar que se a pessoa for destra e seus sintomas começarem do lado esquerdo, isso não será observado por ela.
2. Outro sintoma: perda da destreza do membro acometido. Em outras palavras: o movimento fino da mão fica comprometido, como abotoar, costurar, fazer a barba, digitar, amarrar o cadarço, etc…
3. Também pode ser visto redução do balanço passivo do membro ao caminhar. Quando andamos, naturalmente balançamos os braços. É um movimento automático. Na pessoa com Parkinson, o lado acometido balança menos. É como se o braço ficasse mais travado ao caminhar. Esse é um sinal inicial muito comum em Parkinson. Às vezes a perna arrasta também.
Sintomas não-motores que podem surgir antes do tremor
Além dos sintomas motores, as pessoas com Parkinson podem ter os chamados sintomas não-motores, que também são causados pela doença, mas não “enxergamos”.
Eles são tão ou mais importantes que os sintomas motores muitas vezes, pois atrapalham a qualidade de vida da pessoa.
Eles são a parte do Iceberg que não enxergamos…
Há em especial 4 sintomas não motores que podem surgir antes do tremor na doença de Parkinson:
- Perda ou redução do olfato: a pessoa refere que não sente direito o cheiro dos perfumes, do café, ou mesmo o cheiro ruim de um lixo por exemplo.
- Constipação/prisão de ventre;
- Distúrbio Comportamental do sono REM: Muitas pessoas apresentam sonhos vívidos, podendo gritar à noite, mexer os braços e as pernas, inclusive dando socos e chutes; isso chamamos de Distúrbio Comportamental do Sono REM. Sono REM é justamente a fase do nosso sono em que sonhamos. Uma pessoa sem Parkinson, nesse momento do sonho, fica parada, imóvel, dormindo. Na pessoa com Parkinson, há uma alteração nas células que deixam nós imóveis durante o sonho, e assim a pessoa vivencia o sonho.
- Depressão.
E por que é importante reconhecer esses sintomas?
Por 2 motivos:
- Quando estamos diante de um paciente com possível diagnóstico de Parkinson, a presença de sintomas além do tremor pode ajudar a fechar o diagnóstico. Mesmo porque, nem todo paciente com Parkinson tem tremor! Nesses casos, precisamos analisar outros sintomas, como os descritos acima. Costumamos dizer que o diagnóstico do Parkinson é um quebra cabeça, que o neurologista junta peças para chegar a uma conclusão final.
- Se no futuro tivermos terapias neuroprotetoras, ou seja, que retardam a evolução da doença, será fundamental fazer o diagnóstico precoce, bem no início, e os sintomas iniciais serão essenciais.
Resumindo: o diagnóstico inicial da doença de Parkinson muitas vezes não é óbvio. Não é um diagnóstico fácil em muitos doentes com comorbidades (artrose, problemas na coluna, etc..), com sintomas muito leves, e naqueles sem tremor.
A presença de sinais sutis é muito útil pro neurologista, já que não há um exame específico que faça o diagnóstico, como exames de sangue ou de ressonância.
E lembre-se: a doença é heterogênea, o que uma pessoa tem não quer dizer que a outra terá. Nem todos têm sintomas não-motores. Detalhar bem a sua história ao seu médico é o melhor caminho.
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445