O que é a Doença de Parkinson?
Postado em: 04/08/2021
A doença de Parkinson foi descrita pela primeira vez em 1817 pelo médico inglês James Parkinson. Na época, ele descreveu a presença de lentidão durante a marcha e tremor em algumas pessoas pelas ruas de Londres. Hoje, mais de 200 anos após sua descrição, muitos aspectos da doença ainda são desconhecidos, embora tenha havido um avanço considerável nas últimas décadas.
Dia 11 de abril é o dia mundial da doença de Parkinson, em homenagem a data de nascimento do médico inglês James Parkinson
A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum na população mundial. Estima-se que cerca de sete milhões de pessoas em todo o mundo possuam a doença, e esse número deve dobrar nas próximas duas décadas.
Ela afeta cerca de 0,3% da população geral e 1% a 2% da população acima dos 60 anos. Embora menos comumente, a doença pode acometer pessoas com menos de 40 anos (chamado de doença de Parkinson precoce). Apenas 10% da doença de Parkinson tem origem genética. Portanto, a grande maioria das pessoas acometidas não apresenta um familiar acometido e não apresenta um gene causador da doença.
De uma forma simplificada, a doença é causada por uma redução na produção de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor cerebral que orquestra nossos movimentos como andar, escrever e falar. Ela é produzida em uma região central do cérebro chamada Substância Negra, e sua a redução da sua produção leva a sintomas específicos, descritos abaixo.
Quais são os sintomas da doença de Parkinson?
A doença de Parkinson é caracterizada por 3 sintomas: bradicinesia, rigidez e tremor de repouso.
A bradicinesia é um distúrbio caracterizado por lentidão dos movimentos na iniciação e execução de atos motores voluntários e automáticos. No geral, o paciente ou a família nota que os movimentos gerais estão mais devagar no dia a dia da pessoa. Isso ocorre de forma progressiva, ao longo dos meses, e é quando a pessoa procura um médico neurologista para avaliação.
Outras alterações motoras associadas à bradicinesia são: pobreza de movimentos manifestada por redução da expressão facial (hipomimia), diminuição da expressão gestual corporal, redução do balanço do braço durante a marcha (“marcha em bloco”) e redução da deglutição automática da saliva, levando a acúmulo e perda da saliva pelo lábio (chamada sialorreia).
A bradicinesia compromete as atividades básicas da vida diária, como andar, falar (a voz fica mais baixa), alimentar, vestir e realizar a higiene corporal. A escrita ou a letra do paciente tende a ficar menor e menos legível. Alguns pacientes referem que o cheque voltou do banco pois a assinatura estava diferente.
A rigidez é outra anormalidade motora presente em pacientes com Parkinson. Trata-se de uma resistência maior quando movimentamos a articulação dos membros, por exemplo, há maior rigidez na articulação do cotovelo, punho, pescoço e joelho. Essa rigidez faz com que o braço do paciente fique mais flexionado, assim como a postura. De forma característica, o paciente com Parkinson tem o tronco flexionado para frente.
O tremor parkinsoniano é clinicamente descrito como sendo de repouso (com o braço parado em cima da mesa, ou no braço da cadeira ou em repouso sobre a coxa), exacerbando-se durante a marcha, no esforço mental e em situações de tensão emocional.
Geralmente, ele diminui com a movimentação voluntária do segmento afetado e desaparece com o sono. O tremor é o sintoma mais conhecido na doença de Parkinson. Ele costuma acometer a mão e é chamado de “tremor em contar moedas”.
Tremor de repouso – um dos sinais mais característicos da doença de Parkinson
Duas observações são importantes: i) o início dos sintomas na doença de Parkinson é sempre assimétrico. Ou seja, começa do lado esquerdo ou direito da pessoa; ii) nem todos pacientes com Parkinson têm tremor.
Sintomas clássicos da doença de Parkinson
Importante: o início dos sintomas da doença de Parkinson sempre é assimétrico (iniciando do lado direito ou esquerdo do corpo). Com o passar dos anos, geralmente o outro lado é acometido. Não são todos pacientes com Parkinson que apresentam tremor. Cerca de 20% dos acometidos nunca vão apresentar tremor em nenhuma fase da doença. Portanto, a avaliação dos sintomas como lentidão e rigidez são fundamentais.
Como é feito o tratamento da doença de Parkinson?
O tratamento da doença de Parkinson é multidisciplinar e envolve a participação do neurologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. O tratamento medicamentoso é sintomático, ou seja, não há cura para a doença, mas melhora dos sintomas com as medicações.
As medicações visam aumentar a dopamina no cérebro, o que acarreta a melhora dos sintomas. A levodopa, sintetizada na década de 60, ainda é considerada o tratamento mais efetivo e globalmente utilizado no Parkinson. Além da levodopa, outras medicações são utilizadas. O objetivo sempre é o mesmo: aumentar a oferta dopaminérgica cerebral.
Além de medicamentos, há evidências de que a prática de atividade física pode ser protetora na doença de Parkinson. Isso quer dizer que quem faz atividade física, em especial atividade aeróbica, tem um curso melhor da doença. Recomendamos atividade física desde o início da doença. Não há uma atividade específica: caminhada, bicicleta, natação, entre outros são recomendados. Importante é manter a aderência e a constância.
Base do tratamento da doença de Parkinson
Em casos selecionados, a cirurgia de estimulação cerebral profunda pode ser realizada. O procedimento (conhecido como “marcapasso cerebral”) consiste na colocação de um pequeno eletrodo na região do cérebro afetada pela doença, de tal forma que ela possa ser estimulada de forma contínua, aliviando os sintomas.
A cirurgia é indicada a pacientes que tenham pelo menos 4 anos completos do início dos sintomas parkinsonianos e apresentam sintomas que comprometam a qualidade de vida a despeito do tratamento medicamentoso otimizado. A indicação é muito individualizada e os critérios de indicação devem ser discutidos de forma pormenorizada com o neurologista que acompanha o caso.
Em suma, a doença de Parkinson é uma doença frequente e que deve ser tratada de forma multidisciplinar, com foco na melhora da qualidade de vida do paciente. Readaptações e atividade física regular, associadas a medicações dopaminérgicas, ainda são o tratamento “padrão ouro” para a doença.
A cirurgia pode ser benéfica em casos selecionados. Novos estudos e pesquisas ao redor do mundo podem trazer esperança para novas terapias neuroprotetoras, que não apenas aliviam os sintomas, mas retardam a evolução dos mesmos.
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445