Estudo analisa os efeitos do Canabidiol sobre o sono na doença de Parkinson

Postado em: 03/09/2021

O Canabidiol, conhecido popularmente como CBD, é uma substância extraída da planta Cannabis. Ele atua no sistema nervoso central, e estudos vêm mostrando potencial benefício para o tratamento de algumas doenças psiquiátricas ou neurológicas, como dores refratárias e epilepsia. 

Para a doença de Parkinson, já foram realizados alguns estudos, e no geral ainda são inconclusivos.

Foi publicado na importante revista americana Movement Disorders um estudo sobre o efeito do Canabidiol em alterações do sono na doença de Parkinson. A principal análise foi feita sobre o efeito do CBD no Distúrbio Comportamental do Sono REM

Mas o que é Distúrbio Comportamental do Sono REM?

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Muitas pessoas com doença de Parkinson apresentam sonhos vívidos, podendo gritar à noite, mexer os braços e as pernas, como se estivesse dando socos e chutes; isso chamamos de Distúrbio (ou Transtorno) Comportamental do Sono REM

Sono REM é justamente a fase do nosso sono em que sonhamos. 

Uma pessoa sem Parkinson, enquanto está sonhando, fica parada, sem mexer. Na pessoa com Parkinson, há uma alteração nas células que deixam nós parados/ imóveis durante o sonho, e assim a pessoa vivencia o sonho (se mexe e às vezes fala durante o sonho).

Assim, na prática, a grande maioria das pessoas não se lembra dos eventos. Ela acorda sem se lembrar do que aconteceu, ao passo que o seu acompanhante – a esposa ou o marido – muitas vezes acordam assustados, e tem um grande incômodo ao longo do tempo.

O estudo clínico

Trinta e três pacientes com Parkinson e alteração do sono REM foram incluídos. Eles receberam Canabidiol ou Placebo, e foram acompanhados por 14 semanas.

O que os pesquisadores queriam saber: o Canabidiol seria eficaz no tratamento do sono desses pacientes?

O que eles encontraram:

1. O Canabidiol não foi eficaz em melhorar o Distúrbio Comportamental do Sono REM nos pacientes.

2. Houve uma melhora da qualidade do sono durante a 4º e a 8º semanas do estudo. Ou seja, durante um período do seguimento dos pacientes, quem usou Canabidiol dormiu melhor do que quem estava usando placebo. Foi um efeito transitório.

Mensagens principais:

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  1. O estudo foi muito bem feito; é fundamental estudarmos os efeitos dos remédios em comparação ao placebo. 
  1. O estudo foi negativo em linhas gerais: não mostrou benefício do Canabidiol sobre o principal objeto desse estudo: o Distúrbio Comportamental do Sono REM. 
  1. Sabemos que os receptores canabinóides são abundantes no cérebro, incluindo regiões relacionadas ao sono e regiões relacionadas à ansiedade. Então, é possível que o efeito transitório da melhora do sono visto nos pacientes que usaram o CBD tenha sido, de fato, secundário aos efeitos no cérebro do CBD (Canabidiol).
  1. O uso do Canabidiol foi bem tolerado, e os efeitos colaterais foram semelhantes ao do grupo placebo.

O uso do Canabidiol é crescente na medicina. Na doença de Parkinson ainda precisamos de estudos mais robustos. Não existe remédio perfeito para todos os sintomas do Parkinson, o tratamento é individualizado.

Talvez, no futuro, o Canabidiol tenha espaço para alguns sintomas da doença de Parkinson. Ainda não sabemos. Nós, que tratamos a doença de Parkinson, assim como os pacientes e seus familiares, temos que ser entusiastas de novas terapias.

Seja o Canabidiol, sejam outros tratamentos, sempre devem ser bem vindos no arsenal terapêutico, pois isso é muito bom para todos. 

Estudos sérios como esse apresentado devem ser estimulados, pois eles são o caminho para sabermos de fato: se há eficácia, para quais sintomas usar, quais dosagens, quando usar, etc… Há ainda mais perguntas que respostas sobre o Canabidiol na doença de Parkinson. 

Vamos aguardar os próximos capítulos.

Fonte

Cannabidiol for Rapid Eye Movement Sleep Behavior Disorder. de Almeida et al. Movement Disorders.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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Dr. Rubens Cury Neurologista
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