Dieta, Proteínas e doença de Parkinson

Postado em: 10/06/2024

Muito se discute sobre qual deve ser a alimentação adequada para a doença de Parkinson. Sabemos, também, que há interação entre proteínas e medicações, em especial a Levodopa. Portanto, aqui vamos discutir esses aspectos, que podem ser úteis no dia a dia de quem tem a doença e dos seus familiares.

Já podemos adiantar: não há uma dieta específica, exclusiva para quem tem Parkinson. Nenhum estudo científico provou que alguma dieta mude a evolução da doença. 

Porém, baseado em diversos estudos em indivíduos sem a doença, podemos tirar diversas conclusões:

1. A maioria das pessoas que vive com a doença de Parkinson deve comer uma variedade de grãos, vegetais, frutas e proteínas encontradas na carne de frango, peixe e feijão. É importante também incluir nozes, azeite e ovos em sua dieta.

2. A dieta rica em grãos, vegetais e frutas fornece vitaminas, minerais, fibras e carboidratos complexos que podem ajudá-lo a reduzir a ingestão de gordura e ter uma boa saúde.

3. Limite a ingestão de açúcar. Uma dieta com muito açúcar pode ter muitas calorias e poucos nutrientes. 

4. Reduza a ingestão de sal e sódio para ajudar a diminuir o risco de hipertensão e problemas cardiovasculares.

5. Incorpore alimentos ricos em antioxidantes (que são importantes para a saúde geral do cérebro) em sua dieta. Estes incluem frutas e vegetais de cores vivas e escuras.

O consumo de flavonoides ao longo da vida é protetor e diminui o risco de declínio cognitivo.

Bons exemplos de alimentos ricos em flavonoides são:

  • Uva, morango, maçã, mirtilo, jabuticaba, romã, cereja, ameixa, framboesa e outras frutas de coloração vermelha;
  • Frutas cítricas, como limão, laranja e tangerina;
  • Brócolis, espinafre, couve, alho e cebola;
  • Nozes, soja, linhaça e feijão;
  • Vinho tinto, chás (chá verde e preto) e chocolate (cacau).
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6. Equilibre a dieta adequada com atividade física.

7. Escolha uma dieta com baixo teor de gordura saturada e colesterol para reduzir o risco de infarto e certos tipos de câncer, além de ajudá-lo(a) a manter um peso saudável.

8. Beba bebidas alcoólicas com moderação, pois têm poucos (ou nenhum) nutrientes e podem causar hipotensão.

Melhore seus sintomas da doença de Parkinson

Os alimentos certos são fundamentais para otimizar a ação dos seus medicamentos, manter os ossos fortes e com menor chance de osteoporose. A dieta adequada também combaterá a constipação (intestino preso).

Sabemos que para a constipação é importante beber bastante água (seis copos por dia) e comer alimentos ricos em fibras, incluindo arroz integral, grãos inteiros (pães com três gramas ou mais de fibra alimentar por fatia) e frutas.

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Muitas vezes, adicionamos fibra solúvel e insolúvel no café da manhã (encontradas nas farmácias em formulações em pó).

Se possível, tome seus medicamentos com um copo cheio de água. Pode ajudar seu corpo a quebrar a medicação com mais eficiência e mantê-lo idealmente hidratado.

Limite a ingestão de cafeína antes de dormir, pois pode atrapalhar seu sono.

Converse com seu médico sobre se você deve aumentar a ingestão de vitamina D. Ela é encontrada no leite e em produtos lácteos, gema de ovo e peixes, como atum e salmão, e ajuda a manter a saúde óssea e o sistema imune otimizado. 

Em alguns casos, suplementamos vitamina D com drágeas. Mas atenção: não é recomendado altíssimas doses de Vitamina D em Parkinson.

O Desafio: Proteína versus Levodopa!

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Se a proteína e a levodopa (Prolopa) estivessem em um ringue, não tenham dúvida: a Proteína sempre sairia vitoriosa.

Sim, há uma interação no intestino entre as proteínas ingeridas na dieta e a levodopa. Ambas disputam o mesmo receptor para serem absorvidas. E a proteína sempre ganha. 

Consequentemente, a levodopa não é absorvida pelo organismo, sendo eliminada nas fezes.

Resultado: a pessoa toma seu medicamento, mas ele faz pouco ou nenhum efeito!

Portanto, medicamentos como a levodopa (Prolopa) em suas formulações BD, DR, dispersível ou HBS funcionam melhor com o estômago vazio. 

Tanto é verdade, que muitos pacientes com Parkinson pioram seus sintomas à tarde, justamente porque o almoço atrapalha a absorção dos remédios da tarde.

Então cortamos a proteína da dieta?

Jamais! Na prática, tentamos não reduzir nenhuma proteína da dieta! Pelo contrário, é fundamental manter a musculatura saudável, e as proteínas são essenciais.

O que devemos fazer é evitar que a medicação seja dada junto com as refeições que contém proteína. Orientamos que a medicação seja dada pelo menos 30 minutos antes ou 60 minutos após as refeições.

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Além disso, é interessante dividir o consumo de proteína ao longo do dia, evitando grandes ingestões no almoço; de preferência, deixamos a ingestão mais à noite, um horário em que a pessoa está menos ativa e, portanto, precisa de menos Levodopa.

Dica: O ideal é evitar redução do consumo de proteína, mas de preferência, fazer com que elas sejam consumidas mais à noite, pois “atrapalham” menos.

Mas é importante afirmar que mesmo assim, muitas vezes, ainda a pessoa se sente mais lenta à tarde, pois nossa digestão demora no mínimo 2 horas, e em pessoas com Parkinson, esse tempo é ainda maior…..

Portanto, utilizamos outras estratégias, como melhorar a motilidade intestinal (prescrevendo Domperidona), aumentar a dosagem dos remédios a tarde, utilizar remédios de liberação mais lenta pela manhã para “chegarem” até a tarde ainda com efeito, utilizar a formulação Prolopa dispersível pela tarde, pois tem uma absorção melhor, etc….as estratégias são sempre discutidas com seu neurologista….

Detalhes fazem a diferença….

Algumas pessoas sentem náuseas como efeito colateral da Levodopa (Prolopa), e tomar o remédio com o estômago vazio pode não ser sua melhor opção. 

Portanto, orientamos tomar a medicação com um suco de fruta, chá ou um pequeno lanche. Isso está correto.

Mudar sua dieta pode ser difícil. Tente fazer uma mudança de cada vez, como comer um pouco de nozes, castanhas ou uma fruta no lugar do pão branco. Pequenas mudanças podem resultar em grandes benefícios.

Caso se sinta mais seguro, consulte um nutricionista, que pode ajudá-lo a planejar cardápios e fazer listas de compras para preparar refeições nutritivas de sua preferência, e que atendam às suas necessidades individuais, incluindo o horário dos seus medicamentos.

Se você sentir ansiedade ou depressão, converse com seu médico. Esses sintomas podem reduzir ou mesmo aumentar o apetite.

E lembre-se, é fundamental que o seu intestino esteja funcionando muito bem, pois a boa absorção dos remédios depende disso. Informações sobre constipação e probióticos podem ajudar.

Tenham um ótimo dia e se alimentem bem!

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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