Como um xarope poderia virar um tratamento eficaz para a doença de Parkinson?

Postado em: 12/06/2024

A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Como médico neurologista, acredito que tanto a suscetibilidade genética quanto os fatores ambientais desempenham papéis significativos no desenvolvimento dessa doença complexa. 

Estima-se que mais de 8,5 milhões de indivíduos vivem com Parkinson, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019.

Principais Sintomas do Parkinson

Os quatro principais sintomas do Parkinson são bem conhecidos e incluem: tremor, rigidez muscular, bradicinesia (comprometimento do controle motor voluntário) e equilíbrio prejudicado com alterações na postura. Esses sintomas são a manifestação visível de um processo degenerativo mais profundo. 

A doença está associada à morte de células nervosas em uma área específica do cérebro chamada substância negra, responsável pelo controle do movimento. Quando essas células são danificadas ou morrem, elas param de produzir dopamina, um neurotransmissor vital para a coordenação motora.

O tremor, frequentemente o sintoma inicial, é mais perceptível quando a pessoa está em repouso. Ele pode começar em uma mão ou braço e se espalhar para outras partes do corpo à medida que a doença progride. A rigidez muscular se refere à resistência dos músculos ao movimento passivo, resultando em dor e redução da amplitude de movimento. 

A bradicinesia, ou lentidão dos movimentos, é um dos sintomas mais incapacitantes, tornando tarefas diárias simples, como vestir-se ou escovar os dentes, extremamente desafiadoras. O equilíbrio prejudicado e as alterações na postura contribuem para o aumento do risco de quedas, um problema significativo para pacientes com Parkinson.

Além desses sintomas motores, o Parkinson pode também causar uma variedade de sintomas não motores, como distúrbios do sono, depressão, ansiedade, problemas de memória e dificuldades cognitivas. 

É fundamental que o tratamento do Parkinson aborde tanto os sintomas motores quanto os não motores, para melhorar a qualidade de vida do paciente.

Entender esses sintomas e como eles se manifestam pode ajudar na detecção precoce da doença, permitindo intervenções mais eficazes e um gerenciamento mais adequado da condição.

A Proteína Alfa-Sinucleína e a Progressão da Doença

Pesquisas recentes têm mostrado que muitas células cerebrais em pessoas com Parkinson contêm aglomerados da proteína alfa-sinucleína. Esses aglomerados são considerados uma das principais causas da progressão da doença.

O Ambroxol: Xarope para Tosse no Combate ao Parkinson

Uma descoberta interessante nos últimos anos é o potencial uso do xarope para tosse Ambroxol no combate à doença de Parkinson. Ambroxol é comumente usado para reduzir o catarro e limpar a congestão pulmonar. 

No entanto, pesquisadores descobriram que essa substância pode aumentar os níveis de GBA (glucocerebrosidase), uma proteína que ajuda as células a removerem proteínas residuais, incluindo a alfa-sinucleína.

Estudos Clínicos com Ambroxol

Estudos clínicos indicam que Ambroxol pode ter efeitos benéficos em pacientes com Parkinson. Em um ensaio clínico de fase 2 publicado em 2020, os pesquisadores descobriram que Ambroxol era seguro, bem tolerado e poderia aliviar os sintomas da doença em 17 participantes do estudo. 

Esses resultados promissores levaram ao planejamento de um ensaio clínico de fase 3.

Ensaio Clínico de Fase 3 do Ambroxol em 2023

Em 2023, um ensaio clínico de fase 3 do Ambroxol foi anunciado. Esse estudo será realizado em parceria com a instituição de caridade Cure Parkinson’s do Reino Unido, a John Black Charitable Foundation e o Van Andel Institute, uma instituição de pesquisa independente sediada em Michigan. 

O ensaio acompanhará 330 participantes com Parkinson em 10 a 12 locais no Reino Unido, com os participantes tomando Ambroxol diariamente por dois anos.

Mensagem Importante sobre o Uso do Ambroxol

É crucial destacar que, até o momento, não há evidências suficientes para permitir o uso ou a prescrição de Ambroxol para o tratamento da doença de Parkinson. Embora os resultados preliminares sejam promissores, indicando que o Ambroxol pode aumentar os níveis de GBA e ajudar a remover proteínas residuais como a alfa-sinucleína, ainda estamos na fase de pesquisa.

Os ensaios clínicos em andamento, especialmente o ensaio de fase 3 que começou em 2023, são fundamentais para determinar a segurança e a eficácia do Ambroxol no tratamento do Parkinson. 

Devemos aguardar os resultados desses estudos com otimismo, mas também com cautela, reconhecendo que a ciência exige tempo e rigor para validar novos tratamentos.

Enquanto isso, é importante que os pacientes e seus cuidadores não recorram ao uso não autorizado de Ambroxol na esperança de benefícios não comprovados. O uso de qualquer medicamento sem a devida aprovação pode acarretar riscos à saúde e resultados inesperados

Portanto, até que os estudos forneçam evidências conclusivas e as autoridades de saúde deem a devida autorização, o Ambroxol não deve ser prescrito ou utilizado para o tratamento da doença de Parkinson.

Vídeo Explicativo sobre o Ambroxol

No vídeo abaixo, detalho mais sobre o Ambroxol e seu potencial no tratamento do Parkinson. É fundamental que você assista para entender melhor o estágio atual dos estudos e as implicações futuras.

Sobre o Autor

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury, Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia e Estimulação Cerebral Profunda (DBS). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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Dr. Rubens Giberty
Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores
CRM-SP 131445

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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Dr. Rubens Cury Neurologista
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