Como driblar o congelamento da marcha na doença de Parkinson

Postado em: 16/03/2022

Muitos pacientes com Parkinson podem ter o chamado congelamento ou bloqueio de marcha, que em inglês é conhecido como freezing.

“Doutor, é como se eu quisesse andar e minha perna não obedecesse, como se meus pés congelassem no chão”

O congelamento da marcha aparece em alguns pacientes, geralmente com vários anos de doença. Há uma parada súbita da marcha, que pode implicar na redução da qualidade de vida e risco de quedas e, portanto, é extremamente importante ser abordado pelo médico neurologista que acompanha o paciente.

Quais são as características do congelamento da marcha?

Geralmente, o congelamento da marcha acontece em 3 situações:

1. Quando o paciente vai iniciar a marcha. Ex.: doutor, quando o sinal de pedestre abre, eu vou tentar atravessar a rua e fico travado, “congelado”;

2. Quando o paciente passa em um lugar estreito. Ex.: ao passar por uma porta estreita, ao passar entre móveis colocados muito próximos um do outro;

3. Quando o paciente vai virar. Sim, ele está andando, e quando vai mudar de direção ele trava.

Geralmente o freezing, ou congelamento, dura poucos segundos. Logo em seguida, a pessoa volta a andar. Mas algumas vezes pode ser mais prolongado.

Quando os pés congelam, ou a pessoa fica parada, estática, ou às vezes a perna fica tremendo. Logo em seguida, as pernas “descongelam” e a pessoa volta a andar…

O que pode piorar o congelamento da marcha no Parkinson?

Cinco fatores podem piorar o congelamento da marcha:

1. Estresse, ansiedade e nervosismo podem piorar o congelamento da marcha em quem tem Parkinson. Lembrem-se: o paciente também pode piorar outros sintomas nessas situações de estresse, como o tremor, por exemplo.

2. Superfícies irregulares, no geral com corredores e portas estreitas; móveis e cadeiras muito próximos um do outro fazem as pessoas congelarem mais também.

3. Fazer duas coisas ao mesmo tempo! Sim, se você está andando e por exemplo começa a falar no celular, pode surgir o congelamento. Se você está andando e conversa com alguém ao mesmo tempo, ou se está muito distraído, pode surgir o congelamento, o bloqueio da marcha. Evite a Multitarefa!

4. Falta de dopamina. Muitas vezes, no final da tomada, quando o remédio está acabando (por exemplo o Prolopa), a pessoa sente que piora a marcha, fica mais lenta, e às vezes trava, congela a marcha.

5. Outros problemas clínicos. Ou seja, se a pessoa tiver alguma infecção, febre, mesmo leve, pode piorar os sintomas do Parkinson, e pode piorar o congelamento. Fique atento para sinais de infecção das vias respiratórias e infecções urinárias.

Dicas de como tratar o congelamento da marcha no Parkinson

1. Ajuste medicamentoso

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Sabemos que o congelamento da marcha em geral ocorre no chamado período ‘OFF’, que é quando a dopamina está em níveis baixos no cérebro. Portanto, o ajuste das medicações e o aumento da oferta de dopamina para o cérebro pode ser extremamente eficaz para o congelamento da marcha.

Ajustes em geral são feitos com a própria levodopa (Prolopa), tanto nas liberações mais lentas da medicação, quanto nas mais rápidas (formulação dispersível);

Ajuste de outras medicações como o Pramipexol, a Amantadina, a Entacapona, o Neupro, a Rasagilina (Azilect) e o Xadago também são realizados.

O ajuste sempre deve ser feito pelo médico neurologista!

2. Fisioterapia da marcha e equilíbrio

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Sempre deve ser indicada para quem tem congelamento da marcha! 

É essencial!

A fisioterapia é específica para o congelamento. Há treino de como andar de forma adequada, de como evitar bloqueios, quedas, como melhorar a postura, a forma com que viramos, como levantamos de uma cadeira, etc…

Todos os pacientes com congelamento devem ser encorajados a fazer fisioterapia, e o diálogo médico-fisioterapeuta é fundamental.

3. Truques para “driblar” o congelamento da marcha

Hoje sabemos que o congelamento ocorre pois a marcha, o andar, é uma função automática muito realizada por todos. E na doença de Parkinson, esses movimentos automáticos que fazemos em excesso podem ser afetados.

É como se tivesse um congestionamento no cérebro.

Dessa maneira, podemos tentar driblar o congestionamento, saindo da via congestionada e indo para uma via mais livre.

Exemplos:

Ao estar com os pés congelados, muitos pacientes imaginam um obstáculo, ou mesmo o acompanhante coloca um pé na frente do pé do paciente, para que ele levante o pé e reinicie a marcha;

Às vezes ele pode simplesmente pensar que está dando um passo, que os pés descongelam; por outro lado, há algumas pessoas que contam mentalmente (um, dois, três..) e tentam andar no mesmo ritmo da contagem. Pode funcionar.

Em outros casos, há luzes nos andadores que simulam um obstáculo, e faz com que a pessoa ande sem bloquear;

Exemplo de bengala com laser. A pessoa, através desse estímulo visual, consegue evitar ou mesmo “driblar” o congelamento

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Há quem ande de bicicleta e vá muito bem, outros usam patinete; sim, quando mudamos o “comando” cerebral superamos muitas vezes o congelamento.

É claro que esses exemplos sempre são treinados com o fisioterapeuta; a pessoa precisa de assistência, pois é muito individualizado: o que é bom para uns podem não ser para outros!

Exemplo de pisos com marcas no chão, que ajudam as pessoas com congelamento. Exemplo também de calçada com quadrados preto e branco, que teoricamente ajudariam as pessoas com Parkinson e congelamento.

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4. Neuromodulação

Em alguns casos, a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (ou DBS) pode ser útil. 

Ela não é indicada exclusivamente para o congelamento, mas para pacientes que flutuam muito ao longo do dia: hora estão bem, hora estão muito travados.

Quando o congelamento vem no período de travamento, ele pode melhorar bastante com a cirurgia.

Outra opção de neuromodulação é a Estimulação Magnética Transcraniana, onde uma bobina é colocada na região da cabeça ou das costas para estimular o cérebro e a medula espinhal, respectivamente. Há diversos estudos mostrando sua eficácia no congelamento da doença de Parkinson, incluindo estudos realizados no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Resumindo….

O congelamento ou bloqueio da marcha deve ser levado a sério em quem tem Parkinson, pois incomoda muito e pode levar a quedas. O reconhecimento por parte da equipe médica é fundamental, pois o tratamento é muito específico. Tratamentos convencionais em geral não funcionam. É preciso mesmo avaliação por especialista, fisioterapia especializada e manejo adequado das medicações. Em alguns cenários, a neuromodulação pode ser necessária.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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Dr. Rubens Cury Neurologista
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