Alterações da pele na doença de Parkinson

Postado em: 16/03/2022

A doença de Parkinson classicamente é conhecida pelo tremor de repouso e lentidão dos movimentos que atrapalham as atividades quotidianas. O que pouca gente sabe é que alterações na pele são sintomas relativamente comuns em quem tem Parkinson. 

Muitas pessoas com Parkinson apresentam a pele oleosa, especialmente no rosto e no couro cabeludo. Outras referem que têm a pele seca ou apresentam suor excessivo.

Estudos recentes mostraram uma maior chance de câncer de pele entre pessoas com Parkinson. 

Esses e outros assuntos serão abordados abaixo.

Por que as pessoas com Parkinson têm alterações na pele?

Sabemos hoje que um dos principais mecanismos que causa a doença de Parkinson é o acúmulo anormal de uma proteína chamada Alfa-Sinucleína.

A Alfa-Sinucleína acumula nas células que produzem dopamina, fazendo com que a produção de dopamina fique prejudicada. A dopamina baixa faz com que a fala da pessoa fique baixa, leva à lentidão dos movimentos, à rigidez muscular, ao tremor (em alguns casos), entre outros sintomas.

Porém, sabemos que a Alfa-Sinucleína também pode se depositar na nossa pele. Sim, a doença de Parkinson não é restrita exclusivamente ao cérebro. 

Há evidências que a Alfa-Sinucleína pode alterar a produção de melanina, além de alterar a função das glândulas sebáceas.

1. Pele oleosa

Existem pequenas glândulas chamadas glândulas sebáceas localizadas abaixo da superfície da pele. Essas glândulas secretam uma substância oleosa nos folículos pilosos.

Este óleo normalmente ajuda a proteger a pele, mas em excesso pode causar o que chamamos de dermatite seborreica. 

Os sinais de dermatite seborreica incluem:

  • Pele oleosa, especialmente na testa, nas laterais do nariz, no couro cabeludo (levando a caspa) e nas sobrancelhas;
  • Pele levemente descamada;
  • Coceira;
  • Vermelhidão.
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Dicas para melhorar sua pele oleosa…

Lave a pele duas vezes ao dia com água morna a fria.

Use um sabonete neutro como sabonete de glicerina sem perfume.

Para caspa, experimente um shampoo com ativos específicos como ácido salicílico.

Em casos graves, os médicos podem prescrever shampoos ou loções contendo selênio, cetoconazol ou corticosteroides.

2. Pele seca

A pele muito seca também pode ser um problema para as pessoas com Parkinson, pelo potencial mau funcionamento das glândulas.

Recomenda-se o uso de hidratantes para a pele pelo menos duas vezes ao dia (ao acordar e antes de dormir). Condicionadores nos cabelos podem ser úteis. 

3. Suor excessivo

Muitas pessoas com Parkinson têm problemas com suor excessivo. Às vezes, isso ocorre nas palmas das mãos e na planta dos pés. 

Suores intensos, principalmente à noite, também podem estar presentes e incomodar muito as pessoas. A transpiração excessiva noturna muitas vezes é falta de dopamina, e o ajuste das medicações, como o uso de levodopa de liberação prolongada antes de deitar, pode ajudar. 

Usar roupas leves de algodão em climas quentes e manter-se bem hidratado é fundamental.

Em casos em que há excesso de suor nas axilas ou nas mãos, o uso de toxina botulínica pode ser útil, pois ela reduz a produção local de suor.

4. Câncer da pele

O câncer da pele é relativamente comum na população em geral e em pessoas com Parkinson. 
De todos os cânceres de pele, as pessoas com Parkinson devem ser extremamente cuidadosas em relação ao melanoma.

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Melanoma é um tumor maligno da pele que pode espalhar para órgãos internos. Sabemos que quem tem Parkinson tem maior chance de ter melanoma que pessoas que não têm Parkinson. 

Estudos recentes sugeriram uma probabilidade duas a sete vezes maior em pessoas com Parkinson em ter melanoma do que na população em geral. 

Embora os melanomas sejam relativamente raros (mesmo em pessoas com Parkinson), o diagnóstico e o tratamento precoces são importantes. 

A associação americana de doença de Parkinson recomenda que as pessoas com Parkinson devem ser examinadas por um dermatologista anualmente.

É extremamente importante usar protetor solar diariamente. Independente se você está no sol ou não, pois sabemos que a luz artificial também é prejudicial à pele. 

Aplique o protetor solar pelo menos 2 vezes ao dia (ao acordar e a tarde) na face, orelhas, pescoço e dorso da mão e outras regiões expostas.

5. Outros problemas

Pessoas com Parkinson podem ter maior chance de cabelo branco, pois a Alfa-Sinucleína leva à diminuição da melanogênese nos folículos capilares.

Nem todos os sintomas são secundários à doença em si. Sabemos que a levodopa já foi associada à queda de cabelos e alterações nas unhas, embora isso seja extremamente raro nas doses utilizadas habitualmente. Os agonistas dopaminérgicos (Neupro, pramipexol -> PISA, Quera LP, Sifrol) e a amantadina podem dar edema na pele (inchaço) nas pernas, ou mesmo vermelhidão. 

Alterações da pele que podem estar associadas à doença de Parkinson

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Em suma: a pessoa com Parkinson pode ter alterações da pele, e elas são relativamente comuns. A notícia boa é que, no geral, os tratamentos específicos são muito eficazes. A avaliação por um dermatologista pode ser necessária. Discuta seus sintomas com seu médico.

Tenham um ótimo dia.

Artigo escrito em conjunto:
Dra. Roberta Lopes 
Médica Dermatologista especialista em doenças de pele, cabelos e unhas, além de estética e pequenas cirurgias. 

Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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