A dor na doença de Parkinson

Postado em: 15/05/2024

Aqui, vou discutir as principais características desse sintoma debilitante e como tratá-lo.

De forma resumida, a doença de Parkinson é caracterizada por uma perda progressiva de neurônios produtores de dopamina em uma região cerebral chamada substância negra. Três sinais centrais constituem o chamado parkinsonismo: tremor, lentidão dos movimentos ou bradicinesia, e rigidez.

Além dos sinais centrais da doença de Parkinson, várias outras alterações motoras podem se desenvolver nos pacientes, como alteração da fala (o volume fica mais baixo), alteração do equilíbrio e redução da escrita (que chamamos de micrografia).

Assim, além dos sintomas motores, o conhecimento de sintomas não-motores associados à doença de Parkinson, como alterações cognitivas, psiquiátricas, autonômicas e alterações da sensibilidade e dor, tem crescido exponencialmente nos últimos anos; a presença de alguns pode, inclusive, vir antes dos sintomas motores e muitas vezes são responsáveis por um importante prejuízo na funcionalidade dos pacientes.

Na doença de Parkinson, alguns sintomas podem aparecer meses e anos antes dos sintomas motores. Depressão, intestino preso, alteração do olfato e dor muscular podem aparecer anos antes de o paciente ser diagnosticado com Parkinson.

Quais as características da dor na doença de Parkinson?

Diversos estudos epidemiológicos demonstraram que a dor afeta entre 40 a 85% dos pacientes com doença de Parkinson. Em um estudo realizado pelo nosso grupo no Hospital das Clínicas, 70% dos pacientes apresentavam dor.

A dor no geral afeta o lado mais comprometido pela doença! Por exemplo, em pacientes cujo tremor e rigidez são presentes no lado direito do corpo, a dor costuma afetar o ombro ou a perna desse mesmo lado!

A dor geralmente tem aspecto de dor muscular, em peso, e pode flutuar ao longo do dia: em momentos que o paciente está bem do Parkinson, a dor melhora; em momentos que ele está mais travado, a dor piora.

A dor afeta até 70% dos pacientes com doença de Parkinson, conforme demonstrado em um estudo realizado no Hospital das Clínicas pelo nosso grupo de pesquisa. Ela pode aparecer nas fases iniciais ou mais avançadas da doença. Ela muitas vezes tem caráter flutuante: melhora ou piora a depender dos sintomas de rigidez e lentidão do paciente.

Quais os locais mais acometidos pela dor na doença de Parkinson?

Teoricamente, a dor pode afetar qualquer local do corpo, mas as regiões mais acometidas são a região lombar, seguida dos membros superiores (em especial o ombro) e pernas.

A dor lombar é particularmente comum e pode ser debilitante, limitando a mobilidade e a capacidade de realizar atividades diárias. Nos membros superiores, o ombro é frequentemente afetado, o que pode causar dificuldades para realizar tarefas cotidianas que envolvem levantar ou mover os braços. 

As pernas também são um local comum de dor, o que pode impactar a capacidade de caminhar e se locomover com facilidade.

Além disso, a dor muitas vezes pode também afetar a região do pescoço, principalmente a parte de trás. A dor cervical pode ser muito incômoda e interferir com o sono, já que essa região é crítica para o suporte da cabeça e dos movimentos básicos.

Em alguns pacientes, a dor aparece no período da manhã, logo ao acordar, pois muitas vezes esse é o pior momento da doença, já que os remédios foram tomados na noite anterior. A rigidez matinal é um sintoma comum, e a dor pode ser mais intensa ao despertar, quando os níveis de medicação são mais baixos e os efeitos da última dose começam a diminuir. 

Isso pode resultar em uma maior dificuldade para iniciar o dia, prejudicando a qualidade de vida e a rotina diária do paciente.

A identificação dos locais mais acometidos pela dor e a compreensão de sua natureza são fundamentais para o desenvolvimento de um plano de tratamento eficaz e personalizado para cada paciente.

Como tratar a dor no Parkinson?

Antes de mais nada, devemos reconhecer que a dor está relacionada à doença de Parkinson. Ou seja, há diversas dores que podem não ter qualquer relação com a doença, como dor de cabeça em alguns casos.

Uma vez definido que ela é relacionada, no geral tentamos otimizar/melhorar as medicações do próprio Parkinson.

Sim, melhorando os remédios do Parkinson, muitas vezes a dor desaparece ou reduz muito sua intensidade. Nossa prática mostra que o ajuste da Levodopa (Prolopa), agonistas dopaminérgicos (Pramipexol e Rotigotina, ou Neupro), a Rasagilina (Azilect) e a Safinamida (Xadago) podem aliviar a dor no Parkinson.

Entre outras medidas temos:

  • Reabilitação motora com fisioterapia da marcha, postura e analgésica. Sabemos que alongamento muscular pode auxiliar em dores musculares relacionadas à doença de Parkinson.
  • Ajuste postural. Muitas dores na doença de Parkinson resultam da postura inadequada da pessoa.
  • Atividade física aeróbica. Lembre-se: caminhar, andar de bicicleta, natação, entre outros exercícios físicos, são essenciais ao portador de Parkinson e auxiliam no manejo da dor.
  • Acupuntura. Pode ser muito útil em dores lombares e chamadas miofaciais, onde a musculatura gera a dor por estar muito contraída.
  • Medicações como anti-inflamatórios, analgésicos, ou mesmo antidepressivos, às vezes, são indicados.

A mensagem é: a dor está presente em muitos pacientes com Parkinson e pode impactar a qualidade de vida; o reconhecimento é fundamental para o tratamento. Há medidas medicamentosas e não-medicamentosas (mudanças do estilo de vida) que podem auxiliar muito a pessoa. Discuta o seu caso com seu neurologista e fisioterapeuta.

Fonte

Effects of deep brain stimulation on pain and other nonmotor symptoms in Parkinson disease. Cury RG et al. Neurology.

Dr. Rubens Giberty
Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores
CRM-SP 131445

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445

Dr. Rubens Cury Neurologista
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