Excesso de salivação na doença de Parkinson
Postado em: 17/09/2021
É comum alguns pacientes com Parkinson se queixarem: “Doutor, estou com muita saliva, às vezes fico até babando, isso é do Parkinson?”
A sialorréia, comumente referida como excesso de salivação, é uma manifestação neurológica comum de muitas doenças neurológicas, incluindo paralisia cerebral, doença de Parkinson e esclerose lateral amiotrófica.
Babar pode ser uma complicação muito debilitante da doença de Parkinson, e é uma das queixas mais comuns dos pacientes.
E é realmente muito frequente. Algumas estimativas mostram que até 80% dos pacientes com doença de Parkinson apresentam hipersalivação.
A hipersalivação, que pode fazer o paciente babar, é muito problemática e pode causar constrangimento, isolamento social, depressão, infecção de pele, mau cheiro e pneumonia por aspiração.
A pneumonia por aspiração é uma das principais causas de complicações em pacientes com doença de Parkinson!
Por que os pacientes com Parkinson têm excesso de saliva?
As hipóteses iniciais sugeriam que o aumento da saliva no Parkinson era atribuível a uma produção excessiva de saliva. Isso seria secundário à uma disfunção do sistema nervoso autonômico.
Mas estudos posteriores mostraram que a produção de saliva é até menor em quem tem Parkinson do que em pessoas sem a doença!
Assim, a ideia que atualmente temos é que a diminuição da capacidade de engolir é o que leva a um acúmulo de saliva na boca. Em outras palavras: como engolir muitas vezes é um movimento automático, ou seja, nós não pensamos para fazer, a sua redução leva a um acúmulo de saliva na boca, e assim o indivíduo com Parkinson pode ficar babando….
A nossa produção de saliva é feita pelas glândulas salivares, mostradas abaixo:
Ilustração das glândulas salivares. Destaque para a parótida, em vermelho.
E como tratar que tem excesso de saliva?
Temos 3 linhas de tratamento para a hipersalivação:
1. Medidas comportamentais e fonoterapia
Vários estudos focaram em intervenções por fonoaudiólogos, como dicas e estímulos para o paciente engolir, mostrando benefício.
Medidas conservadoras também podem ser adotadas, evitando que o pescoço do paciente fique muito flexionado, otimizando a terapia dopaminérgica, hidratação e garantindo a higiene oral adequada.
Um estudo mostrou que a goma de mascar pode modificar certos parâmetros da deglutição e reduzir a salivação em pacientes com Parkinson. Isso realmente é às vezes reportado por alguns pacientes como algo útil.
2. Medicações específicas
As terapias com medicação para a hipersalivação costumam ser nossa primeira tentativa, mas temos que ser vigilantes com possíveis efeitos colaterais.
Entre as classes medicamentosas utilizamos anticolinérgicos, escopolamina e ipratrópio. No geral, elas agem reduzindo a produção de saliva nas glândulas. Os efeitos colaterais como constipação (intestino preso), retenção urinária e boca seca devem ser monitorizados.
A atropina em gotas também é uma opção que utilizamos no dia a dia. A aplicação de gotas embaixo da língua pode melhorar bastante a queixa de salivação.
3. Toxina botulínica
Um importante estudo analisou o efeito da toxina botulínica, o popular Botox, em 187 pacientes:
- 122 pacientes tinham doença de Parkinson;
- 13 tinham tido derrame (AVC);
- 12 tinham esclerose lateral amiotrófica ou ELA;
- 6 tinham salivação induzida por medicamentos;
- 4 tinham paralisia cerebral.
Houve melhora importante da hipersalivação em todas essas condições após a aplicação da toxina botulínica.
Sim, a toxina botulínica, ou Botox, é muito usada para tratar o excesso de saliva na doença de Parkinson. Aplicamos a toxina botulínica nas glândulas parótidas e submandibulares, conforme demonstrado abaixo:
Toxina botulínica sendo aplicada na glândula parótida
Toxina botulínica sendo aplicada na glândula submandibular
A toxina age na glândula salivar fazendo com que a sua secreção reduza. Se a secreção reduz, há menor produção de saliva, e assim o paciente melhora.
Principais características da toxina botulínica para tratar a hipersalivação no Parkinson:
- Age localmente reduzindo a produção da saliva;
- Tem efeito sustentado durando em média de 3 a 5 meses após a aplicação;
- Não tem efeitos colaterais típicos de muitas medicações, como tontura, náuseas, dor de cabeça e gastrite;
- A aplicação leva em média 15 minutos e é feita com uma agulha muito fina e com ultrassom;
- Não interage com as medicações para o Parkinson;
- Praticamente não tem nenhuma contraindicação.
A toxina botulínica é utilizada em outras condições na doença de Parkinson, veja aqui.
Mensagem: hipersalivação é muito comum na doença de Parkinson. Incomoda, pode fazer a pessoa babar, levando a irritabilidade, perda da motivação e redução da qualidade de vida. Deve ser sempre discutida com seu neurologista, pois medidas comportamentais, fonoterapia, medicações e a toxina botulínica podem ser benéficos.
Fonte
Safety and Efficacy of RimabotulinumtoxinB for Treatment of Sialorrhea in Adults: A Randomized Clinical Trial. Stuart H Isaacson. Jama Neurology.
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445