Estudo mostra benefícios dos Probióticos na doença de Parkinson

Um estudo publicado na importante revista americana Neurology mostrou que o uso de probióticos é benéfico em pacientes com doença de Parkinson. 

Houve principalmente melhora dos sintomas de constipação intestinal (intestino preso) e na qualidade de vida nos pacientes. 

Mas o que são probióticos?

Os probióticos são microorganismos vivos que fazem bem para a nossa saúde. Eles ajudam a manter a nossa flora intestinal saudável e, assim, colaboram para o bom funcionamento do organismo.

Além disso, os probióticos melhoram o nosso sistema imunológico e são conhecidos como “bactérias do bem”.

Sabemos hoje que pacientes com Parkinson têm importante alteração da microbiota ou das bactérias intestinais. Também sabemos, que os pacientes com Parkinson têm muita constipação, ou intestino preso. 

Portanto, a hipótese dos autores do estudo foi que, regulada a função intestinal, haveria melhora do intestino preso e da qualidade de vida.

O Estudo Clínico

Foram avaliados 72 pacientes com doença de Parkinson que tinham algum grau de constipação. Eles foram divididos em 2 grupos: uso de probióticos ou placebo.

Dessa forma, no grupo que recebeu probióticos, houve melhora do número de evacuações e da qualidade de vida, avaliadas com questionários específicos. 

Os pacientes foram acompanhados por 4 semanas.

A constipação na doença de Parkinson

Intestino preso (ou constipação) é muito comum na doença de Parkinson, em todas as fases da doença. Aproximadamente 60 a 80% dos pacientes com Parkinson apresentam sintomas gastrointestinais.

Mas afinal, qual a importância disso?

1. O intestino preso leva a desconforto, dor, irritabilidade da pessoa. Isso é mais óbvio, embora muitos não reconheçam que a constipação pode estar relacionada à doença de Parkinson, e têm seus sintomas negligenciados.

2. O intestino preso reduz a absorção da dopamina – levodopa. Sim, pessoas com o intestino preso terão menor absorção dos remédios para o Parkinson! Isso é extremamente importante, pois muitas vezes só de melhorar o intestino do paciente ele melhora os sintomas da doença de Parkinson, como lentidão e tremor!

Atenção: o raciocínio para a alta frequência de intestino preso no Parkinson é relativamente simples: assim como a pessoa com Parkinson têm lentidão dos movimentos, a mobilidade do intestino também está diminuída. Essa mobilidade diminuída faz o paciente ficar com intestino preso e atrapalha a absorção dos remédios do Parkinson!

Os potenciais benefícios dos probióticos além da constipação

Em uma revisão publicada recentemente sobre o assunto e que reuniu 17 artigos (estudos em animais e em seres humanos), o uso de probióticos foi associado a uma redução da inflamação periférica e central (avaliada através das dosagens de interleucinas e proteína C reativa), redução do estresse oxidativo celular, redução da degeneração celular (menor redução das células dopaminérgicas) e  melhora da agilidade motora e da memória.

Além disso, há estudos que também mostram que o uso de probióticos melhoram a resistência à insulina, ou seja, melhoram o metabolismo da glicose.

Relação intestino, microbiota e cérebro. Fatores inflamatórios intestinais seriam controlados pelos probióticos, melhorando sintomas da doença de Parkinson

Resumindo: Novos estudos em animais e humanos mostraram um potencial benefício dos probióticos: i) na redução da inflamação do organismo; ii) na redução do estresse oxidativo; iii) na redução da degeneração celular, e iv) na melhora da agilidade motora e da memória dos pacientes com Parkinson

Quais as principais mensagens que temos que guardar:

1. Primordialmente, a constipação é muito frequente em quem tem Parkinson. O médico neurologista deve abordar, perguntar sobre, e tratar os pacientes;

2. Um importante estudo mostrou que o uso de probióticos pode ser uma boa opção para o tratamento da constipação;

3. Há vários estudos mostrando que talvez o benefício dos probióticos pode ir além da constipação, como redução inflamatória no organismo.

Mas ainda temos que ir com calma: faltam estudos confirmatórios e maiores para os dados acima; o uso de probióticos em Parkinson é off-label. 

Em outras palavras, cada caso deve ser discutido individualmente, e sempre avaliar outros fatores como a alimentação do paciente, o uso concomitante de medicações que atrapalham o intestino, como está a hidratação, a mobilidade, a atividade física, entre outros fatores. 

Medidas para melhorar a constipação podem ser lidas aqui. Cuide do seu intestino!

Fonte

1. Probiotics for Constipation in Parkinson Disease: A Randomized Placebo-Controlled Study. Tan et al. Neurology. 

2. Neurogenic and anti-inflammatory effects of probiotics in Parkinson’s disease: a systematic review of preclinical and clinical evidence. Leta et al. Brain Behav Immun. 

3. Gut bacterial tyrosine decarboxylases restrict levels of levodopa in the treatment of Parkinson’s disease. Kessel et al. Nature Communications. 

4. Implications of the Gut Microbiome in Parkinson’s Disease. Elfil et al. Movement Disorders.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

COMPARTILHAR: