Novos estudos sobre terapias neuroprotetoras em modelos animais da doença de Parkinson

Postado em: 26/04/2022

Dois estudos publicados esse mês sobre doença de Parkinson foram destaques na literatura, e vou brevemente resumi-los aqui:

O primeiro estudo: a substância AG490

O primeiro estudo foi realizado na USP e avaliou os efeitos de uma substância chamada AG490 em modelos Parkinsonianos de ratos.

A lógica

Um receptor cerebral chamado de TRPM2 está aumentado em doenças degenerativas que levam a perda neuronal, como na doença de Parkinson, em que há perda de neurônios que sintetizam dopamina.

Portanto

se reduzirmos a atividade desse receptor, poderíamos reduzir a morte neuronal nesses pacientes???

O que foi feito:

Foi administrado aos ratos a substância AG490, e de fato, ela reduziu a morte neuronal: eles souberem disso pois analisaram o tecido cerebral dos ratos. 

Portanto, a substância AG490 foi neuroprotetora: ela protegeu o cérebro dos ratos com Parkinson.

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O segundo estudo: células-tronco

O segundo estudo foi publicado na Nature Regenerative Medicine e é sobre células-tronco na doença de Parkinson.

Em termos práticos, podemos afirmar que células-tronco são células que têm o potencial de recompor tecidos danificados e, assim, auxiliar no tratamento de doenças como câncer, doenças degenerativas e cardíacas.

Na doença de Parkinson há diversos estudos até o momento, com resultados variados. Um dos maiores problemas é achar qual célula-tronco implantar no cérebro dos pacientes. 

Usando um termo mais técnico, qual o grau de maturidade da célula que deve ser implantado no paciente com Parkinson?

É como se soubéssemos qual a semente deve ser plantada para germinar uma determinada planta, mas ainda não sabemos o grau de maturidade dessa semente. Se ela é muito imatura, não germina. 

Nesse estudo conduzido na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, os cientistas testaram vários graus de maturidade das células-tronco em modelos animais de Parkinson (em ratos). Eles observaram que o grau ideal de maturidade é chamado de “D17”.

Basicamente, o que vemos nas figuras é um crescimento das células produtoras de dopamina após o transplante das células-tronco, e que o tipo D17 é o melhor.

Esse estudo é importante pois abre portas para a melhor compreensão do uso de células-tronco na doença de Parkinson, e quem sabe utilizar esse modelo em seres humanos nas próximas pesquisas.

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Reflexões sobre ambos os estudos

O tratamento para doença de Parkinson com remédios é sintomático: ou seja, repomos a dopamina que falta. Isso já é excelente.

O que a ciência busca são terapias que possam agir na própria produção da dopamina, seja diminuindo a sua perda, seja reparando uma perda que já ocorreu.

Nesse sentido, ambos os estudos tentam agir na raiz do problema.

São estudos animadores, sem dúvida, mas obviamente requerem cautela, pois foram feitos em animais.

Os estudos seguem sempre uma sequência: após experimento em animais, são avaliados os efeitos em pessoas saudáveis para avaliar a segurança (fase 1) e depois em pessoas com a doença em si a ser estudada (fase II e III).

Portanto, está muito cedo para tirarmos conclusões, e ambos os tratamentos ainda não são oferecidos aos pacientes com Parkinson. 

Vamos ficar atentos ao avanço da ciência e mantermos a esperança de que novos tratamentos virão em breve. Enquanto isso, é fundamental manter a aderência aos remédios, atividade física regular e hábitos alimentares saudáveis. 

Fonte: 

1. Inhibition of TRPM2 by AG490 Is Neuroprotective in a Parkinson’s Disease Animal Model. Ferreira et al. Molecular Neurobiology (2022) 59:1543–1559.

2. Optimizing maturity and dose of iPSC-derived dopamine progenitor cell therapy for Parkinson’s disease. Hiller et al. npj Regenerative Medicine (2022)7:24.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). 

Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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