Seis Mitos sobre a doença de Parkinson
Postado em: 01/09/2022
Diversos conceitos são bem estabelecidos em relação à doença de Parkinson, descrita há mais de 200 anos. Porém, alguns “mitos” em torno dos sintomas e dos tratamentos são frequentemente escutados pelos neurologistas no dia a dia. Por isso, vou abordar aqui 6 mitos comuns da doença de Parkinson, e explicar cada um deles. Acompanhe.
Mito 1
“O tremor é o principal sintoma da doença de Parkinson”
Não é. É o mais conhecido, mas não é o mais importante. Digo isso pois muitos pacientes com Parkinson não têm tremor.
O sintoma mais importante do Parkinson é a chamada bradicinesia, que é a lentidão dos movimentos.
A lentidão dos movimentos é o principal sintoma da doença de Parkinson e está presente em 100% dos indivíduos acometidos pela doença.
Manifestações da lentidão na rotina da pessoa:
- dificuldade em movimentar um lado do corpo (em geral o braço) quando está realizando atividades rotineiras
- dificuldade em escrever, alimentar-se, abotoar uma camisa, fechar um zíper, amarrar um tênis, pentear o cabelo, fazer a barba, maquiar-se, etc…
- dificuldade para andar, levantar-se da cadeira, sair do carro
- a família nota, por exemplo, que a pessoa faz as coisas mais devagar, que leva mais tempo para realizar atividades quotidianas. Às vezes, também é percebido que um braço balança menos que o outro durante a marcha.
Mas é importante ressaltar que o temor é sem dúvida um sintoma relevante, e que o médico deve estar atento e tratar de forma adequada. Ele está presente em 75% das pessoas com Parkinson, e geralmente é mais acentuado quando o braço está em repouso ou em situações de estresse.
Mito 2
“A doença de Parkinson pode levar à doença de Alzheimer”
Não tem qualquer relação. São doenças diferentes, em que o mecanismo e o local do cérebro acometido são bem diferentes.
Obviamente, não é impeditivo que uma pessoa com doença de Parkinson possa desenvolver Alzheimer com o avançar da idade, mas ela desenvolveria tendo ou não a doença de Parkinson!
A doença de Parkinson e a doença de Alzheimer são doenças diferentes, e uma não leva à outra
Mito 3
“A doença de Parkinson acomete apenas o sistema motor”
Mito. A doença de Parkinson é, atualmente, reconhecida como uma doença multissistêmica com comprometimento motor e não motor.
Diversos sintomas não motores afetando o olfato, o humor, o sono e o sistema nervoso autônomo foram relacionados à doença de Parkinson.
Vários sintomas não motores podem surgir antes dos sintomas clássicos da doença de Parkinson. Entre eles, o distúrbio comportamental do sono REM é um dos mais característicos. O paciente vivencia o sonho, gritando a noite, as vezes mexendo de forma brusca os braços e as pernas, de forma a incomodar o (a) parceiro (a).
A hiposmia (redução do olfato) está presente em até 85% dos indivíduos com Parkinson, e isso pode ser observado no início da doença.
Mas entenda, não são todos os pacientes que vão desenvolver todos os sintomas não-motores! Isso é muito variável. O mais importante é reconhecer se o paciente tiver, e tratar para melhorar a sua qualidade de vida. Essa é a mensagem principal.
Mito 4
“Há um exame que comprove que a pessoa tem Parkinson”
Não existe. O diagnóstico é clínico. Através da história relatada pelo paciente e um exame neurológico.
Os exames de imagem (tomografia ou ressonância) no geral servem para excluir outras causas de lentidão dos movimentos. Atenção: nem todo mundo que tem lentidão ou tem tremor tem doença de Parkinson!
O exame de ressonância magnética ou tomografia do cérebro é utilizado para descartar outras causas, e não confirmar a doença de Parkinson
Mito 5
“A levodopa não deve ser iniciada precocemente (para não “gastar”)”
Esse é um conceito antigo, e desatualizado. Antigamente optava-se por poupar a levodopa, e deixar para ministrá-la mais para frente. Hoje sabemos que ela pode sim ser dada no início da doença, a depender dos sintomas do paciente.
O Importante é a forma de administrar a levodopa, que dever fracionada, e sem baixas doses.
Mito 6
“A cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda é indicada apenas para pacientes com tremor”
Isso de fato não é verdade. Sabemos que em casos selecionados de doença de Parkinson a cirurgia de estimulação cerebral profunda (ou DBS) pode ser realizada.
O tremor é um dos sintomas que mais melhoram após a cirurgia, sem dúvida. Mas há pacientes com Parkinson cujo tremor é leve, ou mesmo inexistente, e o que mais atrapalha é a lentidão dos movimentos, a rigidez, os períodos de “travamento”; nesses pacientes, a cirurgia pode ser muito benéfica.
Portanto, há vários pacientes que operam sem que o tremor seja o principal sintoma, ou o sintoma que mais incomoda.
No vídeo abaixo detalho as principais informações discutidas acima, não deixe de ver!
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445