Quais os critérios para fazer a cirurgia de estimulação cerebral profunda?

Postado em: 15/03/2022

A cirurgia de estimulação profunda é também denominada de DBS, sigla em inglês para deep brain stimulation.

Trata-se de um procedimento para algumas doenças, sendo a mais conhecida a doença de Parkinson.

Essa modalidade de intervenção auxilia, fundamentalmente, no controle de vários sintomas do Parkinson, produzindo como efeito a melhora na qualidade de vida dos pacientes.

Embora seja bastante segura, é uma intervenção complexa e que tem critérios para que o candidato seja encaminhado para realizar o procedimento.

Em outras palavras: não são todos pacientes com Parkinson que devem realizar o procedimento, apenas uma parte deles é considerada bom candidato. 

Neste texto falarei sobre esses critérios.

O que é a DBS?

É uma técnica que estimula eletricamente o cérebro através de dois pequenos eletrodos..

Ela é indicada para o tratamento de quadros neurológicos tais como a Doença de Parkinson.

Além do Parkinson, o DBS também é indicado para o tratamento de alguns casos de tremor essencial e distonia.

Como é feito o procedimento?

O DBS é uma cirurgia que consiste na colocação de dois eletrodos no cérebro, um cabo conector e um gerador (espécie de bateria) que fica localizado na região torácica (embaixo da pele, igual um marcapasso. 

Esses eletrodos são delicadíssimos, desse modo, não produzem danos ao tecido cerebral.

Portanto, o sistema da Estimulação Cerebral Profunda é formado por 3 componentes:

1) o eletrodo de estimulação, que fica no alvo determinado. No caso, o núcleo subtalâmico na doença de Parkinson; O eletrodo é uma estrutura metálica fina, semelhante a uma carga de caneta, com diâmetro médio de 1 mm (número 1 da figura abaixo). Ele se fixa na região do crânio (número 2 da figura).

2) o cabo de conexão, que conecta o eletrodo à bateria (número 3 da figura). O cabo de conexão fica embaixo da pele, e sai da região da cabeça onde os eletrodos foram colocados e vai até a região torácica, onde fica a bateria (marcapasso).

3)  a bateria, ou marcapasso, que gera a energia para todo o sistema. Ele fica embaixo da pele, semelhante a um marcapasso cardíaco (número 4 da figura).

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A função dos eletrodos é estimular (eletricamente) um núcleo que está doente no Parkinson, chamado de núcleo subtalâmico. 

Na doença de Parkinson, o eletrodo é colocado em um núcleo chamado subtalâmico, uma pequena estrutura localizada na região central do cérebro.

Núcleo Subtalâmico – o Alvo da Cirurgia no Parkinson

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O núcleo subtalâmico participa dos movimentos quotidianos como escrever, falar, gesticular e andar. Ele é coordenado pela dopamina, que é uma pequena molécula liberada por nossos neurônios. Na doença de Parkinson, há uma redução progressiva da produção de dopamina, o que faz com que o funcionamento do núcleo fique alterado e com a atividade reduzida. Como resultado, aparecem os sintomas típicos da doença de Parkinson: lentidão dos movimentos, tremor de repouso e rigidez.

Desta maneira, na falta de dopamina, a estimulação do núcleo subtalâmico através do DBS produz pequenos impulsos elétricos que visam reestabelecer o funcionamento adequado dessa pequena região cerebral, melhorando assim os sintomas.

Todas as pessoas com doença de Parkinson podem realizar esse tratamento?

Não. Em média 20% dos pacientes irão se beneficiar do procedimento. Os outros 80% serão controlados apenas com medicamentos.

Em pacientes com Parkinson que, apesar do uso adequado das medicações, não estão com seus sintomas controlados.

Ou seja, mesmo fazendo o uso adequado do esquema medicamentoso prescrito pelo neurologista, ainda apresenta episódios de rigidez, lentidão e tremor que incomodam seu dia a dia.

É o médico neurologia o responsável por avaliar e determinar quais são os melhores recursos para tratar o paciente.

Isso porque, além de cada paciente ser um sujeito singular, o estágio da doença é fundamental para se ter ideia da resposta ao tratamento.

Quais são os critérios para saber se a DBS é indicada ou não?

Essa cirurgia é indicada nos casos em que:

  • Não restam dúvidas com relação ao diagnóstico da patologia, neste caso a doença de Parkinson.
  • O paciente deve estar fazendo o tratamento medicamentoso de forma correta, e mesmo assim ter sintomas que prejudicam sua qualidade de vida, como movimentos involuntários (chamadas discinesias), Off (período de travamento importante e rigidez) ou tremor de repouso.
  • O paciente deve ter pelo menos 4 anos de tempo de doença.

Antes da cirurgia, realizamos uma avaliação neuropsicológica, que visa avaliar os sintomas cognitivos do paciente (memória, atenção) e sintomas depressivos.

Importante ressaltar que nem todos os pacientes com Parkinson irão se beneficiar da cirurgia. Há pacientes que ficam bem controlados com remédios, e não necessitam da cirurgia. Por outro lado, há pacientes em que o risco cirúrgico é alto, portanto ela não pode ser feita. Assim, a indicação do DBS deve ser discutida com seu médico neurologista; ela é individualizada.

No vídeo abaixo, relato de forma mais pormenorizada alguns aspectos sobre a cirurgia:

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Coordenador do Grupo de Estimulação Cerebral Profunda da Universidade de São Paulo.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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Dr. Rubens Cury Neurologista
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