O uso da Toxina Botulínica ou Botox na Neurologia
Postado em: 17/08/2021
A toxina botulínica, conhecida popularmente como Botox, é bastante conhecida pelo seu uso na estética e dermatologia. Mas você sabia que ela é também uma substância fundamental para o tratamento de algumas doenças neurológicas?
Sim! Ela age através das terminações nervosas, relaxando o músculo onde é feita a aplicação. Como ela não é absorvida, é muito bem tolerada pelo nosso organismo!
Assim, as principais características da toxina botulínica na neurologia são as seguintes:
- Ação local, relaxando o músculo. Essa sua propriedade permite aliviar contrações e faz com que o paciente realize tarefas que antes não conseguia;
- Efeito sustentado, durando em média de 3 a 5 meses após a aplicação;
- Não tem efeitos colaterais sistêmicos típicos de muitas medicações, como tontura, náuseas, dor de cabeça e gastrite;
- É muito menos complexa e invasiva que cirurgias.
Dentre as principais aplicações na neurologia, temos:
1. Distonias
A Distonia é uma alteração do movimento caracterizada por contrações musculares involuntárias que acabam levando a movimentos e posturas anormais. Essa contração involuntária pode ocorrer em diversas partes do corpo, como a face, o pescoço, os braços e as pernas.
A toxina botulínica é o tratamento de escolha para a maioria das distonias. Ela começa aliviar as contrações em cerca de 7 a 10 dias após a aplicação.
São exemplos de distonias em que a toxina botulínica é altamente eficaz:
Blefaroespasmo: Distonia que ocorre nos olhos. A pessoa tem contração excessiva dos músculos dos olhos, fazendo com que eles fechem de forma involuntária. Em situações de estresse, ou mesmo a exposição à luz do sol, há piora das contrações e às vezes a pessoa mal consegue enxergar.
Os pontos de aplicação são ilustrados abaixo; utilizamos agulhas extremamente finas. Há um leve ardor pela injeção da toxina em si, mas é bem tolerado pelos pacientes.
Distonia cervical: Distonia que acomete o pescoço. A pessoa tem contração involuntária dos músculos do pescoço; como se fosse um torcicolo. A contração pode levar o pescoço para frente, para trás ou para os lados. Além disso, pode haver dor muscular associada.
Distonia da mão e câimbra do escrivão: Distonia que acomete os braços e as mãos. A mão ou o braço flexionam, sem a pessoa ter intenção. Isso ocorre geralmente quando ela vai fazer algum movimento, como pegar um copo, abotoar uma camisa, ou mesmo escrever.
Além disso, em casos de distonia pós derrame, ou AVC, ela pode ser fixa. Ou seja, a contração é constante ao longo de todo o dia. Em algumas situações essa contração aparece apenas quando o indivíduo escreve, o que chamamos de câimbra do escrivão.
Distonia das pernas e pés: Distonia que acomete as pernas e os pés. Pode aparecer em pessoas que têm distônia genética, como em crianças, ou em adultos. Em pacientes com doença de Parkinson a distonia no pé é relativamente comum, principalmente pela manhã ou quando a dopamina está baixa (quando está acabando o efeito do remédio). Nesses casos, a toxina é indicada para melhorar as dores e as contrações.
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O uso da toxina botulínica revolucionou o tratamento das distonias e é considerada o tratamento de escolha em todo o mundo. As distonias podem ser localizadas, ou seja, acometerem apenas uma região, como o pé. Ou serem generalizadas, acometendo diversos segmentos do corpo. Na grande maioria dos casos a toxina botulínica é a primeira opção terapêutica.
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2. Espasticidade
Espasticidade é uma contração contínua que ocorre nos músculos, geralmente após alguma lesão cerebral ou medular. As principais causas são derrame (acidente vascular cerebral, AVC), trauma craniano, tumores cerebrais, lesão medular, esclerose múltipla, paralisia cerebral, entre outras.
Em síntese, existe uma grande dificuldade para mobilizar o membro acometido, em geral a perna ou o braço. A perna acometida pela espasticidade costuma ficar esticada, rígida. Já o braço costuma ficar dobrado, quase fixo.
A espasticidade leva a dor, dificuldade de marcha, retrações musculares, dificuldade de higiene, entre outros sintomas.
A toxina botulínica é aplicada nos principais músculos envolvidos e geralmente resulta em grande alívio das contrações e da dor.
3. Espasmo Hemifacial
O espasmo hemifacial é um distúrbio do movimento caracterizado pela contração involuntária repetitiva da musculatura unilateral da face. Assim como o nome diz há espasmos da musculatura que fica ao redor do olho – a pessoa fica piscando, ou sente contrações leves ao redor do olho, que incomodam.
O Espasmo Hemifacial também acomete a região ao redor da boca. Ele sempre acomete apenas um lado da face.
A pessoa pode desenvolver Espasmo Hemifacial sem ter tido qualquer lesão na face, qualquer infecção ou problema de saúde. Contudo, em alguns casos, a pessoa desenvolve após ter tido paralisia do nervo facial, conhecida como Paralisia de Bell. Meses após ter tido a paralisia, o indivíduo começa a ter contrações na face.
A toxina botulínica para Espasmo Hemifacial é o tratamento de escolha; no geral ela alivia muito os sintomas e os pacientes ficam bem satisfeitos. São aplicados pontos ao redor do olho e, quando necessário, em volta da boca, conforme ilustração abaixo.
4. Enxaqueca
A enxaqueca é uma das principais causas de dor de cabeça, e uma das maiores causas de dor crônica na população mundial. Ela pode ser leve e infrequente; em alguns casos, ela é forte, frequente e incapacitante, comprometendo muito a qualidade de vida das pessoas.
Atualmente, existem diversas medicações disponíveis. Em alguns casos, a toxina botulínica pode ser aplicada, gerando resultados efetivos. Ela foi aprovada após diversos estudos mostrarem que ela é eficaz, bem tolerada, e pode ser uma excelente opção para pessoas com enxaqueca em que o tratamento com medicamento é ineficaz ou causa efeito colateral.
Para enxaqueca aplicamos a toxina em pontos bem estabelecidos, na região da fronte, temporal, occipital e trapézios (músculos do ombro).
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A toxina botulínica é amplamente utilizada na neurologia para o tratamento das distonias, espasticidade, espasmo hemifacial e enxaqueca. Ele é uma opção segura, e deve ser indicada e aplicada por médico com experiência. Muitos planos de saúde fazem o reembolso da aplicação, pois muitas das indicações estão bem estabelecidas pela agência nacional de saúde (ANS).
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Fonte
An Update on Botulinum Toxin in Neurology. Neurol Clinics.
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445