O que fazer para melhorar o tremor essencial?
Postado em: 29/04/2024
O Tremor Essencial é o distúrbio do movimento mais comum do mundo, acometendo cerca de 1% da população. Ele tende a acometer as pessoas com o avançar da idade, mas em alguns casos pode surgir ainda na adolescência.
Ele é caracterizado por um tremor fino e rápido das mãos, em especial quando a pessoa movimento a mão em direção a um objeto, quando segura um copo, uma caneta, um garfo ou por exemplo um pointer.
Trata-se de um distúrbio do movimento que é constantemente confundido com a Doença de Parkinson por causa dos tremores característicos, mas há diferenças clínicas que o neurologista consegue ver durante o exame neurológico.
O Tremor Essencial afeta homens e mulheres, e quando ocorre na fase ativa da pessoa, de trabalho, pode ser bastante debilitante. Apesar de poder incomodar bastante a pessoa, vale lembrar que o Tremor Essencial não é uma doença degenerativa.
É importante discutirmos aqui sobre essa condição de saúde que atinge uma em cada vinte pessoas com mais de 40 anos e uma a cada cinco pessoas com mais de 65 anos, segundo informações colhidas do Internacional Essencial Tremor Fundation. No Brasil, são estimados 4 milhões de portadores de Tremor Essencial, um número 10 vezes maior que a doença de Parkinson.
O Tremor Essencial tem cura?
À primeira vista, as pessoas logo se perguntam se o Tremor Essencial tem cura ou não.
E a resposta é não. Hoje em dia não conseguimos curar ninguém com Tremor Essencial.
Isso quer dizer que ela precisa ser tratada para que os seus sintomas sejam minorados e o paciente possa ter qualidade de vida, entretanto, a cura não é possível.
Quais as causas do Tremor Essencial (TE)?
Estudos recentes apontam que em 50% a doença possui origem genética. E, de fato, é comum pessoas da mesma família terem tremor essencial.
Mas isso não é regra. Pois, existem casos sem origem genético-familiar.
O Tremor Essencial é causado por uma alteração em um circuito cerebral que está hiperativado no cérebro. É como se um grupo de neurônios estivesse com um “curto-circuito”. As medicações e a cirurgia, discutidas abaixo, tentam melhorar esse curto-circuito.
Quais os tratamentos disponíveis para o Tremor Essencial?
Como dissemos anteriormente, não há cura para o Tremor Essencial. O que existe são tratamentos.
E os avanços da medicina possibilitam que os sintomas melhorem bastante se o tratamento for realizado da forma correta.
Deste modo, a seguir vamos listar os dois tratamentos mais comuns, são eles:
Tratamento Medicamentoso
Os medicamentos são parte essencial no tratamento do TE.
Os seguintes medicamentos podem reduzir drasticamente os sintomas do Tremor Essencial:
- Propranolol;
- Primidona;
- Gabapentina;
- Topiramato;
- Benzodiazepínicos.
É comum também o uso da injeção de Botox para os tremores que atingem as estruturas vocais.
Para aqueles pacientes com tremor grave e refratário ao tratamento medicamentoso, existe a possibilidade do tratamento cirúrgico.
Mas o que é tremor refratário?
O tremor é considerado refratário ou resistente quando não melhora o suficiente com os medicamentos de primeira linha (Propranolol e Primidona), e pelo menos um remédio de segunda linha (como o Topiramato e a Gabapentina por exemplo). Por isso, é fundamental que o portador de Tremor Essencial faça o seguimento médico com um neurologista clínico especialista em distúrbios do movimento.
Quando pensar em cirurgia para o Tremor Essencial?
A cirurgia é indicada quando o tremor é grave e incapacitante, prejudicando as atividades manuais do paciente. Exemplo: há pessoas com Tremor Essencial que passam a ter muita dificuldade ou impossibilidade em escrever, comer, beber, manusear objetos, abotoar a camisa, amarrar o cadarço, costurar, etc…
Não existe uma idade limite para a indicação cirúrgica, mas algumas fontes excluem pacientes com mais de 75 anos. Como a doença é mais prevalente na população idosa, é importante levar em conta outras doenças que o paciente tenha para avaliação do risco cirúrgico, e também realização de uma ressonância magnética de crânio para avaliar a existência de lesões.
A principal cirurgia realizada para Tremor Essencial é a Estimulação Cerebral Profunda, ou DBS (do inglês, Deep Brain Stimulation). Nessa cirurgia, um eletrodo (semelhante a uma carga de caneta) é colocado na região do cérebro que está alterada no Tremor Essencial, chamada de Tálamo.
Tálamo – o Alvo da Cirurgia no Tremor Essencial
Assim, a corrente elétrica que sai do eletrodo estabiliza esse pequeno “curto-circuito” cerebral, melhorando o tremor. Em outras palavras, através da estimulação do eletrodo há uma estabilização da atividade elétrica patológica cerebral.
O sistema da Estimulação Cerebral Profunda é formado por 3 componentes:
1) o eletrodo de estimulação, que fica no alvo determinado. No caso, o núcleo subtalâmico na doença de Parkinson; O eletrodo é uma estrutura metálica fina, semelhante a uma carga de caneta, com diâmetro médio de 1 mm (número 1 da figura abaixo). Ele se fixa na região do crânio (número 2 da figura).
2) o cabo de conexão, que conecta o eletrodo à bateria (número 3 da figura). O cabo de conexão fica embaixo da pele, e sai da região da cabeça onde os eletrodos foram colocados e vai até a região torácica, onde fica a bateria (marcapasso).
A cirurgia, embora bastante eficaz, não é curativa; ou seja, ela alivia os sintomas (média de 70% de eficácia após um ano), mas não suprime completamente o tremor. Ademais, a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda tem riscos. Por isso, cada caso deve ser avaliado de forma individual com o médico neurologista e neurocirurgião.
Fonte: Thalamic deep brain stimulation for tremor in Parkinson disease, essential tremor, and dystonia. Cury RG, Fraix V, Castrioto A, Pérez Fernández MA, Krack P, Chabardes S, Seigneuret E, Alho EJL, Benabid AL, Moro E. Neurology. 2017
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445