O que é Espasmo Hemifacial?

O Espasmo Hemifacial é um distúrbio do movimento caracterizado pela contração involuntária e repetitiva da musculatura unilateral da face. Descrito inicialmente por Gowers em 1888, ele ocorre tanto em homens quanto em mulheres, embora seja mais frequentemente encontrado em mulheres de meia idade e idosas. 

O Nervo Facial é o nervo afetado pelo Espasmo Hemifacial, conforme mostrado na figura abaixo:

Estrutura anatômica do nervo facial. A contração dele leva a espasmos na face, conhecido como Espasmo Hemifacial

Geralmente, o Espasmo Hemifacial é causado por uma compressão vascular do nervo facial em sua emergência no tronco cerebral.  Ou seja: um pequeno vaso, uma artéria, encosta no nervo. 

Assim, esse contato faz com que ele fique “irritado” e assim emita contrações involuntárias, que são vistas na face.

Exemplo do contato do nervo facial (amarelo) com um vaso, em vermelho

Quais as características do Espasmo Hemifacial?

Além de a contração involuntária da musculatura ocular interferir com a visão, pode levar a comprometimento social importante dos pacientes. 

Além disso, na maioria dos casos, os sintomas iniciais são espasmos da pálpebra intermitentes, que podem levar ao fechamento forçado do olho.  

Gradualmente, este espasmo acomete o restante da musculatura facial, do mesmo lado, levando a contrações simultâneas da região em volta da boca, na bochecha e às vezes ao lado do nariz.

Lembre-se: os espasmos são sempre apenas de um lado do rosto!

O diagnóstico é baseado na história clínica e no exame neurológico, suportados pela ressonância nuclear magnética do encéfalo para excluir causas secundárias, principalmente quando outros nervos cranianos são envolvidos.

Em outras palavras: na maioria dos casos de Espasmo Hemifacial não há uma causa como tumores, infecções no cérebro, etc.. O contato do nervo com o músculo geralmente é o culpado pelo Espasmo Hemifacial. 

Mas sim, muitas vezes pedimos uma ressonância do cérebro para descartar causas outras que possam estar comprometendo o nervo.

Em alguns casos, a pessoa desenvolve espasmo após ter tido paralisia do nervo facial, conhecida como Paralisia de Bell.

Meses após ter tido a paralisia, a pessoa começa a ter contrações na face. Por isso é sempre importante ter uma boa história clínica e examinar com cuidado os pacientes.

Note bem: o Espasmo Hemifacial é um distúrbio do movimento caracterizado pela contração involuntária repetitiva da musculatura unilateral da face. Como o nome diz, há espasmos da musculatura que fica ao redor do olho – a pessoa fica piscando, ou sente contrações leves ao redor do olho, que incomodam. O Espasmo Hemifacial também acomete a região ao redor da boca. Ele sempre é de um lado do rosto apenas.

Como tratamos o Espasmo Hemifacial?

A eficácia dos medicamentos no alívio dos sintomas do Espasmo Hemifacial é transitória. Carbamazepina, biperideno, baclofeno, clonazepam foram estudados, mas realmente nossa experiência clínica mostra que no geral são pouco eficazes.

A toxina botulínica para Espasmo Hemifacial é o tratamento de escolha; no geral, ela alivia muito os sintomas e os pacientes ficam bem satisfeitos. São aplicados pontos ao redor do olho, conforme vemos abaixo:

Quando necessário, além de aplicarmos ao redor do olho, aplicamos em volta da boca, conforme ilustração abaixo:

A toxina botulínica, conhecida pelo seu nome comercial Botox, é bastante conhecida pelo seu uso em estética e dermatologia. 

Contudo, ela também é uma substância fundamental para o tratamento de algumas doenças neurológicas. Ela age através das terminações nervosas e assim relaxa o músculo em que é aplicada. 

Assim, como  não é absorvida pelo organismo, ela é muito bem tolerada!

Informações importantes sobre o uso da Toxina Botulínica no Espasmo Hemifacial:

1. É, sem dúvida, o tratamento de escolha;
2. Iniciamos com baixas dosagens e vamos observando a resposta do paciente; se precisar, aumentamos ou mesmo reduzimos;
3. É bem tolerada, pois não é absorvida pelo organismo.
4. As aplicações devem ser repetidas periodicamente. No geral, a cada 3-4 meses; em alguns casos, ela pode durar até mais tempo. É variável de pessoa para pessoa. 
5. Muitos planos de saúde cobrem a aplicação.

A aplicação da toxina botulínica para Espasmo Hemifacial é feita ao redor dos olhos e as vezes da boca

Fonte

Tratado de paralisia facial: Fundamentos teóricos – Aplicação prática. Capítulo: Espasmo Hemifacial. Rubens Gisbert Cury e Mônica Santoro Haddad.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

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