A fascinante relação entre dopamina, Parkinson e motivação

Postado em: 01/04/2024

Costumamos dizer aos pacientes com Parkinson que o tratamento padrão ouro para a doença é a soma de atividade física regular + medicações adequadas e, em alguns casos, a cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS).

Mas por trás dessa orientação padrão, há um fator que serve de base e sustentação para o sucesso da terapia, e pode impulsionar o tratamento: a motivação. Discutirei brevemente esse aspecto a seguir.

Relação dopamina e motivação

Não é segredo que a falta de dopamina é a principal característica na doença de Parkinson, pois ela participa como um maestro da nossa função motora, e a sua falta leva à lentidão dos movimentos, que é o marco da doença. 

Mas o que poucos sabem é que a dopamina também é a principal substância química do cérebro responsável pela motivação.

E motivação nada mais é do que ter entusiasmo e interesse em realizar um determinado afazer.

Quando temos uma tarefa a ser realizada, que nos trará uma recompensa, a dopamina gradativamente aumenta no cérebro. O fato de você prever que terá uma recompensa faz os neurônios dopaminérgicos aumentarem a liberação da dopamina em uma região do cérebro chamada de núcleo accumbens.

Isso foi inicialmente observado em ratos: durante a realização de uma tarefa em que eles sabiam que teriam uma recompensa (receber um pedaço de comida) a liberação de dopamina aumentava. Quanto eles recebiam a recompensa, ela também aumentava. Ou seja, tanto durante a realização de uma tarefa (processo) quanto após a sua conclusão (recompensa) a liberação de dopamina aumenta no cérebro.

Estudos em humanos confirmaram esses achados: quando estamos diante de algo que será agradável e nos dará prazer, a dopamina aumenta no cérebro. Ela é o neurotransmissor da recompensa.

E mais: quanto maior é a recompensa esperada, maior ainda é a liberação. Podemos chamar isso de um comportamento motivacional e de recompensa.

Vias dopaminérgicas no cérebro relacionadas à motivação

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E como traduzir isso para o dia a dia de quem tem Parkinson? 

A pessoa com Parkinson não deve realizar atividades físicas que não lhe dão prazer, que lhe pareçam forçadas, que lhe tragam a sensação de “de novo vou ter que fazer isso”. Se a pessoa não se sente motivada com suas atividades, não há liberação de dopamina durante o processo. Não há recompensa. 

Resultado: não há aderência ao tratamento. E isso é seguido de frustração e da sensação de incompetência por parte da pessoa.

Os cientistas mostraram que você pode aumentar sua dopamina melhorando atitudes e comportamentos.

A motivação é baseada em estabelecer metas e estar determinado a alcançá-las. Estilo de vida saudável, alimentação balanceada e atividade regular reduzem a evolução da doença de Parkinson. Esse é o combustível que deve impulsionar o paciente.

Uma pessoa motivada é capaz de ter um plano para contratempos e ser capaz de enfrentar um eventual fracasso sem desistir. A motivação está atrelada à perseverança, persistência e obstinação. 

Se você tem Parkinson, deve aprender a superar…

  • Obstáculos
  • Fracassos                
  • Tentações
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Muhammad Ali, um dos maiores boxeadores da história, enfrentou a doença de Parkinson por 32 anos.

Ter uma mentalidade focada pode levar aos hábitos necessários para desenvolver a perseverança e a motivação. 

Sabemos que isso não é fácil! Mas lembre-se, você não precisa estar sozinho. Muitas vezes pode ser necessário o estímulo e apoio dos familiares, do neurologista, de um psicólogo, e de amigos, sejam antigos ou novos.

É fundamental desenvolver fortes vínculos sociais.

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“Evite desencorajar-se: mantenha ocupações e faça do otimismo a maneira de viver. Isso restaura a fé em si.”

Lucille Ball

Um excelente dia a todos.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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