Estudo demonstra o efeito da estimulação cerebral profunda (DBS) no Tremor Essencial
Postado em: 17/09/2021
Um estudo publicado na importante revista americana Neurology analisou os efeitos da estimulação cerebral profunda em pacientes com Tremor Essencial.
O Tremor Essencial é a principal causa de tremor no mundo. Ele pode acometer homens e mulheres de diversas idades, desde adolescentes até pessoas com mais de 60 anos.
No geral, muitos pacientes não precisam de tratamento, apenas acompanhamento. Em contrapartida, algumas pessoas com Tremor Essencial se incomodam bastante, sendo necessário medicações.
Há ainda um pequeno grupo que mesmo com o uso de medicações fica tremendo muito. Nesses indivíduos, a cirurgia de estimulação cerebral profunda (ou DBS) pode ser indicada.
O estudo clínico
Foram analisados os efeitos da cirurgia de estimulação cerebral profunda em 38 pacientes com Tremor Essencial. Os pacientes foram avaliados antes e após a cirurgia.
O estudo mostrou uma melhora de 66% no tremor 1 ano após a cirurgia. No geral, essa melhora se manteve bastante eficaz ao longo do tempo. Cerca de 10 anos após a cirurgia a melhora ainda era de 48%.
Esse estudo foi realizado em pacientes da França, e teve uma importância crucial: mostrar que os efeitos da estimulação cerebral profunda são sustentados ao longo do tempo; ou seja: a melhora vista nos pacientes após a cirurgia é mantida ao longo de mais de uma década.
Sim, há pacientes que podem piorar um pouco com os anos após a cirurgia. Isso ocorre pois o tremor essencial, embora não seja uma doença degenerativa, pode piorar com os anos. Nesses casos, o médico neurologista deve ajustar os parâmetros de programação do aparelho (DBS).
Entenda mais sobre o Tremor Essencial
O Tremor Essencial é o distúrbio do movimento mais comum do mundo, acometendo cerca de 1% da população. Ele tende a acometer as pessoas com o avançar da idade, mas em alguns casos pode surgir ainda na adolescência.
Ele é caracterizado por um tremor fino e rápido das mãos, em especial quando a pessoa movimenta a mão em direção a um objeto, quando segura um copo, uma caneta ou um garfo. Ele também aparece quando a pessoa vai abotoar uma camisa, amarrar um cadarço ou pegar o celular.
Tremor durante a escrita – tipicamente observado em Tremor Essencial
Mais raramente, ele pode aparecer na voz (a fala fica tremida) ou na cabeça. O Tremor Essencial é conhecido como o “tremor do cafezinho”, pois classicamente aparece (ou piora) quando estamos segurando uma xícara (objetos pequenos).
Atenção: O Tremor Essencial não é uma doença degenerativa!
Porém, e isso observamos no dia a dia, ele pode piorar com o passar dos anos.
Por exemplo, quando ele se inicia ao redor dos 30 anos de idade, ele pode piorar progressivamente (bem lentamente). Se ele estiver piorando de forma rápida, sempre precisamos investigar causas que agravam o tremor essencial: como remédios, excesso de cafeína, disfunção hormonal como da tireóide, etc..
Sobre o Tratamento
No Tremor Essencial, assim como a Doença de Parkinson, há medicações que podem ser usadas como tratamento inicial. Nesse caso, as drogas de primeira escolha são o Propranolol e a Primidona. Vale lembrar, que quando o tremor é leve e não incomoda a pessoa, não é necessário tratamento com medicamentos, apenas seguimento neurológico e orientação ao paciente.
Para aqueles pacientes com tremor grave e refratário ao tratamento medicamentoso, existe a possibilidade do tratamento cirúrgico.
Entenda mais sobre a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (conhecida como DBS)
A cirurgia é indicada quando o tremor é grave e incapacitante, prejudicando as atividades manuais do paciente.
Pessoas com Tremor Essencial que passam a ter muita dificuldade ou impossibilidade em escrever, comer, beber, manusear objetos, abotoar a camisa, amarrar o cadarço, costurar, etc..devem ser consideradas potenciais candidatas à cirurgia.
Não existe uma idade limite para a indicação cirúrgica, mas no geral evitamos cirurgia em pessoas com idade acima de 75 anos (pessoalmente vejo outros fatores, como comorbidades, pressão arterial não controlada, diabetes descontrolada e tabagismo).
Como a doença é mais prevalente na população idosa, é importante levar em conta outras doenças que o paciente tenha para avaliação do risco cirúrgico, e também realização de uma ressonância magnética de crânio para avaliar a existência de lesões pré-existentes (como lesões vasculares).
Os eletrodos da estimulação cerebral ficam localizados em uma pequena região cerebral chamada de Tálamo:
Tálamo – o Alvo da Cirurgia no Tremor Essencial
Assim, a corrente elétrica que sai do eletrodo estabiliza esse pequeno “curto-circuito” cerebral, melhorando o tremor. Em outras palavras, através da estimulação do eletrodo há uma estabilização da atividade elétrica patológica cerebral.
O sistema da Estimulação Cerebral Profunda é formado por 3 componentes:
1) O eletrodo de estimulação, que fica no alvo determinado. No caso, o núcleo subtalâmico na doença de Parkinson; O eletrodo é uma estrutura metálica fina, semelhante a uma carga de caneta, com diâmetro médio de 1 mm (número 1 da figura abaixo). Ele se fixa na região do crânio (número 2 da figura).
2) O cabo de conexão, que conecta o eletrodo à bateria (número 3 da figura). O cabo de conexão fica embaixo da pele, e sai da região da cabeça onde os eletrodos foram colocados e vai até a região torácica, onde fica a bateria (marcapasso).
3) A bateria, ou marcapasso, que gera a energia para todo o sistema. Ele fica embaixo da pele, semelhante a um marcapasso cardíaco (número 4 da figura).
A cirurgia, embora bastante eficaz, não é curativa; ou seja, ela alivia os sintomas, mas não melhora completamente o tremor. Ademais, a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda tem riscos, como infecção. Por isso, cada caso deve ser avaliado de forma individual com o médico neurologista e neurocirurgião.
Fonte: Thalamic deep brain stimulation for tremor in Parkinson disease, essential tremor, and dystonia. Cury RG, Fraix V, Castrioto A, Pérez Fernández MA, Krack P, Chabardes S, Seigneuret E, Alho EJL, Benabid AL, Moro E. Neurology. 2017
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445