A aplicação da toxina botulínica na doença de Parkinson

Postado em: 27/08/2021

Classicamente, tratamos a doença de Parkinson com medicações específicas, atividade física, reabilitação motora e, em alguns casos, a cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS).

 O que poucos sabem é que em algumas situações a Toxina Botulínica (popular Botox) pode ser utilizada. 

Dessa forma, discutiremos aqui os principais cenários que utilizamos toxina botulínica no Parkinson:

  1. Distonia
  2. Excesso de salivação
  3. Alterações posturais
  4. Tremor

Distonia

Distonia é o nome que damos a contrações musculares involuntárias, que acabam levando a movimentos e posturas anormais. Às vezes, os pacientes referem como se fosse uma câimbra, porque causa dor muscular.

Na doença de Parkinson a distonia mais comumente acomete os pés, embora possa estar presente nas mãos ou pescoço. 

Geralmente, a distonia aparece no período de OFF, ou seja, quando as medicações estão com seu nível baixo. Isso ocorre muito ao acordar (a pessoa nota que seu pé está torto) ou no final da tomada da levodopa (ex.: se ela toma a levodopa às 7h da manhã, ela observa distonia às 11h).

Exemplo de distonia no pé

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Além de acometer o pé (entortar para dentro, como mostrado acima), às vezes há contração apenas dos dedos do pé, seja o hálux (dedão) ou os outros dedos (eles podem fazer uma espécie de garra para baixo ou contraírem para cima)

Outros exemplos de distonia no pé e dedos que ocorrem no Parkinson

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Nas distonias da doença de Parkinson, a toxina botulínica pode ajudar bastante a controlar as contrações e a dor.

Excesso de salivação

Muitos pacientes com Parkinson podem apresentar excesso de saliva, que chamamos de sialorréia. O excesso de saliva ocorre porque o paciente com Parkinson engole menos a saliva. O excesso de saliva chega a acometer de 50 a 80% dos pacientes!

Engolir a saliva é um movimento automático, não pensamos em fazê-lo. Na doença de Parkinson, esse movimento é reduzido, de tal forma que a pessoa acumula saliva na boca, podendo babar.

Assim, nesses casos, aplicamos a toxina botulínica nas glândulas salivares (nas parótidas e na submandibular). 

A toxina botulínica reduz a produção de saliva nessas glândulas, melhorando bastante os sintomas de hipersalivação.

Alterações posturais

Alguns pacientes com Parkinson apresentam alterações posturais que podem se beneficiar da toxina botulínica.

Por exemplo: alguns pacientes têm lateralização do tronco, que chamamos de Síndrome de Pisa, em referência à famosa torre italiana  “torta” (figura abaixo).

Por outro lado, alguns pacientes têm flexão do tronco, que chamamos de camptocormia. Eles também podem se beneficiar com a toxina botulínica.

Alterações posturais da doença de Parkinson que podem ser abordadas com toxina botulínica

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Tremor

O tremor da doença de Parkinson classicamente ocorre em repouso, enquanto o braço está relaxado sobre a coxa, sobre a cadeira ou a mesa, ou enquanto a pessoa está em pé. 

Ele geralmente melhora com as medicações dopaminérgicas, como a levodopa (Prolopa), o pramipexol, a rotigotina (Neupro), a rasagilina (Azilect) e a safinamida (Xadago). 

No entanto, há pacientes em que o tremor não melhora de forma significativa, em especial alguns tremores nas pernas. O tremor nas pernas geralmente ocorre quando a pessoa está sentada. Ela nota que o pé fica tremendo.

Claro que o ajuste medicamentoso pode ser satisfatório, mas em alguns casos a toxina botulínica aplicada diretamente nos músculos responsáveis pelo tremor é uma boa opção terapêutica.

A aplicação da toxina para alívio do tremor nas pernas permite muitas vezes que você não precise aumentar as medicações dopaminérgicas naquele momento.  Em alguns casos, aplicamos nos braços também.

Ou seja: se a pessoa está bem controlada de todos os sintomas, exceto o tremor, a toxina é uma opção, pois assim não é necessário aumentar os remédios naquele momento. Mas claro, o caso deve ser discutido com o neurologista.

Saiba mais sobre a toxina botulínica

A toxina botulínica, conhecida pelo seu nome comercial Botox, age através das terminações nervosas e assim relaxa o músculo em que é aplicada. Como ela não é absorvida pelo organismo, ela é muito bem tolerada.

Principais características da toxina botulínica na neurologia:

  • Age localmente relaxando o músculo. Essa sua propriedade permite aliviar contrações e fazer com que o paciente realize tarefas que antes não conseguia; 
  • Tem efeito sustentado durando em média de 3 a 5 meses após a aplicação; 
  • Não tem efeitos colaterais típicos de muitas medicações, como tontura, náuseas, dor de cabeça e gastrite;
  • É muito menos complexa e invasiva que cirurgias.

Mensagem principal: o uso da toxina botulínica pode ser uma alternativa interessante no tratamento do Parkinson. Ela não substitui os remédios ou a atividade física. Ela é um aliado. Deve-se pensar em toxina em casos de distonia, aumento da salivação, alterações posturais e tremor, em especial nos pés. Discuta com seu neurologista seus sintomas.

Fonte

Use of botulinum toxin in Parkinson’s disease. Jocson et al. Parkinsonism Relat Disord.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

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