Mucuna no tratamento da doença de Parkinson
Postado em: 02/06/2022
A doença de Parkinson acomete cerca de 500 mil pessoas no Brasil, e dados recentes mostram que ela vem aumentando na população mundial. Passados mais de 200 anos da sua descrição, em 1817, diversos avanços médicos existiram.
Por exemplo, sabemos hoje que ela é resultante de um acúmulo anormal de uma proteína chamada alfa-sinucleína, que reduz a produção de dopamina no cérebro, levando a lentidão dos movimentos e rigidez, característicos da doença.
Também sabemos que a reposição de dopamina, através de medicações como a levodopa, alivia muitos os sintomas, assim como a realização de exercícios.
Mesmo assim, apesar desse avanço, há ainda a necessidade de termos novas terapias para a doença de Parkinson, pois não são todos pacientes que ficam bem as medicações disponíveis. E nós, médicos neurologistas, somos frequentemente confrontados pelos pacientes (e com razão) sobre novos tratamentos disponíveis, novas descobertas, novas pesquisas, etc…
Nesse contexto, a Mucuna, que é uma planta, é colocada nas consultas como uma dúvida dos pacientes, se haveria benéfico do seu uso em Parkinson. Portanto, vou resumir alguns aspectos das suas características e dar minha opinião sobre a sua utilização.
O que é Mucuna?
A Mucuna é uma planta cultivada em regiões tropicais e que contém levodopa (que no organismo se transforma em dopamina).
A Mucuna é da classe das leguminosas, como feijão, grão-de-bico e lentilha.
A levodopa é encontrada em sua semente, em uma concentração baixa, em torno de 5%.
Sementes da Mucuna Pruriens
Há estudos com Mucuna e Parkinson?
Sim.
Estudos (pequenos) mostraram que a Mucuna pode melhorar os sintomas da doença de Parkinson após administrada.
Ela é dada em pílulas na forma processada, ou como um chá na forma natural.
O seu efeito foi rápido, em torno de 35 minutos mostrou-se melhorar os sintomas parkinsonianos. A duração do efeito é semelhante à levodopa, poucas horas (3m torno de 3 horas).
Como a Mucuna é processada?
Muitos estudos avaliaram a forma natural da Mucuna. Eles mostraram que a forma com mais levodopa é aquela em que a semente é colocada no forno e, após ruptura da casca, o pó é moído, peneirado e colocado na água (fazendo um chá por exemplo).
No mercado, ela é geralmente vendida em cápsulas, com uma concentração maior de levodopa.
A Mucuna é segura?
Talvez.
A falta de uma regulamentação para a sua produção é ruim, pois é difícil confiar na procedência de produtos. No geral ela é vendida na internet, em cápsulas de 400mg e 800mg.
Eu pessoalmente desencorajo a pessoa produzir a Mucuna ela mesma, pois há relatos na literatura de intoxicação, já que algumas plantas podem ser tóxicas.
Há espaço para o uso de Mucuna na doença de Parkinson?
Honestamente, para aqueles pacientes que necessitam de levodopa, eu prefiro utilizar as medicações Prolopa ou Parkidopa, pois a dosagem nesses remédios é mais específica.
Doença de Parkinson deve ser tratada de forma meticulosa, com dosagens super personalizadas, e a Mucuna não oferece essa propriedade. Por exemplo, o comprimido de Prolopa BD pode ser cortado em 4 pedaços, garantindo 25mg em cada quarto.
Ademais, nas formulações do Prolopa e da Parkidopa temos enzimas (Benserazida e Carbidopa) que reduzem as náuseas após a ingestão da levodopa, propriedade que não temos na Mucuna.
Então eu acho difícil pensar em prescrever Mucuna hoje em dia. Uma exceção poderia ser naqueles pacientes que não toleram de forma alguma Prolopa e Parkidopa, ou que tem discinesias (movimentos involuntários) com doses baixa de levodopa. Como a Mucuna tem uma concentração baixa de levodopa, poderia ser interessante nesse cenário.
Ademais, há países, em especial na África, em não há levodopa disponível. Nesses locias, o uso de Mucuna pode ajudar no tratamento do Parkinson.
Nesse vídeo abaixo eu discuto mais aspectos gerais da Mucuna e a doença de Parkinson:
Diálogo é fundamental pessoal, conversem com seu médico sobre novos tratamentos, perspectivas futuras e atualizações sobre doença de Parkinson. Tenham todos um bom dia.
Fonte:
Levodopa in Mucuna pruriens and its degradation
Mucuna Pruriens in Parkinson’s disease
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445