Inteligência Artificial, Tremor Essencial e Estimulação Cerebral Profunda

Postado em: 09/08/2021

A Inteligência Artificial é uma tecnologia que, através de sinais biológicos (por exemplo, atividades de neurônios) consegue decodificar um código, e executar uma ação.

Em outras palavras,  é como se um sistema de captação de sinais cerebrais entendesse que você quer, por exemplo, mexer a mão direita, apenas com a leitura da sua atividade cerebral. É como se o computador lesse o seu desejo, antes mesmo de você executá-lo.

Isso é possível através da leitura de sinais cerebrais feita com diversos tipos de eletrodos, como por exemplo, os eletrodos utilizados na cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda.

Em suma, a Estimulação Cerebral Profunda é uma terapia onde um eletrodo é colocado em uma determinada região do cérebro para tratar um determinado sintoma; por exemplo, na neurologia, ela é utilizada para tratar sintomas da doença de Parkinson, Distonia e Tremor Essencial.

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Na região torácica do paciente fica a bateria, como se fosse um marcapasso (embaixo da pele). Da bateria sai um fio conector (também subcutâneo), que vai até a região superior do crânio, onde, através de um pequeno orifício no osso, o eletrodo é inserido até a região a ser estimulada no cérebro. Para cada doença: doença de Parkinson, Distonia e Tremor Essencial, um determinado núcleo é atingido, e assim os sintomas melhoram. Atualmente, a estimulação fica ligada de forma contínua, 24 horas por dia.

Pesquisadores da Universidade de Londres publicaram um estudo na prestigiada revista Movement Disorders sobre a utilização da Inteligência Artificial no Tremor Essencial, doença que acomete cerca de 1% da população mundial, e pode ser bastante debilitante.

Os pesquisadores avaliaram pacientes com Tremor Essencial grave e que tinham o sistema de Estimulação Cerebral Profunda (DBS) implantado. 

No estudo, a estimulação era ligada somente quando o paciente apresentava o tremor: por exemplo, quando pegava um copo, ou segurava um objeto. Quando ele estava com o braço parado (sem tremor), a estimulação desligava. Ou seja: através da Inteligência Artificial, o aparelho de DBS lia os sinais cerebrais e sabia quando a pessoa estava com o braço esticado, por exemplo; nesse momento, ele ligava e melhorava o tremor. 

Analogicamente, é como se uma pessoa com diabetes tivesse uma bomba de insulina que liberasse o hormônio apenas quando a glicose subisse. 

Dessa forma, esse tipo de estimulação personalizada deve ganhar campo no tratamento da doença de Parkinson, distonias, tremor e inclusive tiques, pois permite que a estimulação seja mais precisa e aja de acordo com as demandas do paciente. 

Ela é mais precisa, e ainda consome menos bateria. É como se a luz da sua casa acendesse somente quando você entrasse pela porta, e não ficasse ligada 24 horas por dia, que é o que ocorre com os sistemas atuais de DBS. 

A Inteligência Artificial vem ganhando espaço na neurologia e na neuromodulação. Indivíduos com tetraplegia, esclerose lateral amiotrófica, entre outras doenças que levam a perda dos movimentos, podem se beneficiar da leitura dos seus sinais cerebrais. 

Na doença de Parkinson também, já que os sintomas motores: como tremor e bloqueio da marcha (chamado freezing) não são contínuos. 

Pelo fato de esses sintomas aparecerem em alguns momentos ao longo do dia, é interessante que um sistema de captação de sinais perceba quando isso irá ocorrer, para intervir, agir e aliviar os sintomas. Novos capítulos nesse fascinante campo tecnológico devem surgir em breve.

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Exemplo de sistema de Estimulação Cerebral Profunda (do inglês, Deep Brain Stimulation, DBS) inteligente. Através do eletrodo que está colocado na região do cérebro a ser estimulada, um aparelho (que aqui no caso é a bateria, localizada no tórax do paciente) lê o sinal cerebral, interpreta o que está ocorrendo, e em seguida executa uma ação: por exemplo ligar ou desligar o aparelho.

Fonte:

Closed-Loop Deep Brain Stimulation for Essential Tremor Based on Thalamic Local Field Potentials. Shenghong He. Movement Disorders.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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