Doença de Parkinson: uma outra pandemia

Postado em: 16/03/2022

Diversos estudos recentes apontam para um aumento da incidência e prevalência da doença de Parkinson nas últimas décadas; proporcionalmente, o crescimento da doença de Parkinson é maior que da doença de Alzheimer e do AVC; uma redução do tabagismo nos últimos 40 anos, e um aumento drástico na industrialização parecem serem os fatores mais determinantes para essa pandemia.

Atualmente há cerca de 10 milhões de pessoas com Parkinson no mundo.

Há expectativa de que 17.5 milhões de pessoas serão acometidas em 2040

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O caso da China

De acordo com a Global Burden of Disease Study, a China comporta 23% da população com Parkinson no mundo, e pode chegar a 50% em 2030.

Um estudo publicado na prestigiada revista médica Movement Disorders analisou a prevalência do Parkinson em 26 mil chineses, de diversas áreas do país. A ideia foi avaliar quão frequente é a doença na atualidade e comparar com dados mais antigos.

Os resultados mostraram que a prevalência total de Parkinson acima de 60 anos é de 1.37%. Ou seja, 1.3 pessoas a cada 100 têm doença de Parkinson na população acima dos 60 anos. 

Há mais homens acometidos pela doença de Parkinson do que mulheres (H/M 1.5/1). Quanto maior a idade, maior a prevalência, chegando a 2.37% acima dos 80 anos.

O Parkinson acomete mais a população rural que a urbana, assim como mais viúvos (as) que casados (as).

Comentários: A prevalência foi maior que a medida anteriormente, há 30 anos (1.14%). O rápido crescimento industrial de alguns países teria relação direta com o aumento da doença? Vamos lembrar de um estudo recém publicado na revista JAMA Neurology que mostrou uma associação entre a exposição ao NO2 (poluição) e o risco de desenvolver Parkinson em 78 mil residentes da Coreia do Sul.

Claramente a poluição está associada ao desenvolvimento da doença. Isso teria alguma relação com o início da doença ser no olfato em alguns pacientes?

Claramente a poluição está associada ao desenvolvimento da doença. Isso teria alguma relação com o início da doença ser no olfato em alguns pacientes?

Alimentos industrializados, ultraprocessados, teriam relação com o início da doença no intestino? 

Cabem diversas reflexões, em especial sobre políticas públicas de saúde e comprometimento com o meio ambiente da população.

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Quais outros fatores ambientais estão associados à doença de Parkinson?

Fatores ambientais como traumatismo craniano, exposição a pesticidas, baixo nível de ácido úrico e alto consumo de laticínios foram associados a maior risco de uma pessoa desenvolver Parkinson. Vale lembrar que são estudos epidemiológicos, portanto não têm o poder 100% de afirmar de forma absoluta uma relação causa-efeito. 

Por outro lado, o consumo de cafeína, o tabagismo, o uso de anti-inflamatórios e a aspirina foram associados a uma menor chance de desenvolver a doença. 

Obviamente, a pessoa não deve fumar em hipótese alguma, mas conhecermos potenciais fatores protetores pode nos ajudar a compreender cada vez mais a causa do Parkinson.

Hoje sabemos que fatores associados aos hábitos de vida são os mais promissores para reduzir a chance de uma pessoa ter Parkinson. Uma dieta balanceada e a prática regular de atividade física reduzem a chance de uma pessoa desenvolver Parkinson no futuro. 

Estudos também mostraram que o consumo regular de flavonoides pode reduzir o risco de uma pessoa desenvolver Parkinson. 

Os flavonoides estão presentes em frutas como uva, morango, maçã, framboesa; em vegetais como brócolis, espinafre, couve e cebola; em cereais e sementes, como nozes, linhaça; além de estarem presente em bebidas como o vinho tinto, chá preto e café. Um estudo publicado na revista americana Neurology mostrou que um consumo regular de flavonoides reduziu a chance em 40% de uma pessoa desenvolver Parkinson. Outro estudo mostrou que altos níveis de vitamina D estão associados a menor chance de desenvolver Parkinson. 

Finalmente, diversos estudos recentes apontam que a dieta mediterrânea reduz a chance de doença de Parkinson, muito provavelmente por melhorar a microbiota e a flora intestinal, atuando também de forma anti-inflamatória. 

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A dieta mediterrânea está associada a um menor risco de doença de Parkinson. A dieta tem como base o consumo de mais vegetais e gorduras monoinsaturadas, como azeite de oliva, ao mesmo tempo em que se consome proteína magra, incluindo frango ou peixe com alto teor de ômega-3, como o salmão. A dieta também prioriza o consumo de frutas, nozes, grãos e feijão.

Hábitos de vida saudáveis e aconselhamento adequado, como dieta balanceada e atividade física. Esse é o segredo. Na dúvida, converse com seu neurologista.

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Fonte:

Lim. Et al. Lancet Neurology 2018.

Qi et al. Movement Disorders 2021.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo e Universidade de Grenoble, na França.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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