A causa da doença de Parkinson é genética?

Postado em: 04/08/2021

A doença de Parkinson é uma das principais doenças neurológicas crônicas na população mundial, acometendo cerca de sete milhões de pessoas em todo o mundo. Mesmo após mais de 200 anos da sua descrição, (em 1817, pelo médico inglês James Parkinson), a causa da doença de Parkinson ainda levanta debates, e no geral temos mais perguntas do que respostas. Apesar das dúvidas, diversos conhecimentos sobre a sua causa foram esclarecidos nos últimos anos, e vamos abordá-los aqui.

 Origem genética?

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De uma forma simplificada, a doença é causada por uma redução na produção de dopamina no cérebro. A dopamina é uma pequena molécula cerebral que orquestra nossos movimentos cotidianos como andar, escrever, gesticular e falar. Sua redução leva aos sintomas típicos da doença, como lentidão dos movimentos e tremor. 

A dopamina é produzida em uma região central do cérebro chamada Substância Negra. Sabemos hoje que a redução da produção de dopamina pelos neurônios da Substância Negra é causada por um acúmulo de uma proteína chamada Alfa-Sinucleína.

O principal fator de risco para o acúmulo de Alfa-Sinucleína (levando à redução da dopamina, e, portanto, à doença de Parkinson) é a idade. Sim, quanto maior a idade, maior a chance de a pessoa desenvolver a doença. 

Hoje estimamos que essa chance gira em torno de 2 a 3% após os 60 anos de idade. Mas não somente a idade é um fator de risco à doença. Sabemos que fatores genéticos e ambientais também podem aumentar o risco de uma pessoa ter Parkinson.

Assim, do total de pacientes com Parkinson, apenas 10% têm origem genética. Hoje são reconhecidos mais de 20 genes que podem causar a doença. Mas a origem genética está na grande maioria das pessoas acometidas. 

Portanto, a grande maioria das pessoas com Parkinson não apresenta um familiar acometido e não apresenta um gene causador da doença. 

Há diferença entre a doença de Parkinson genética e não genética?

A doença de Parkinson genética geralmente acomete pacientes mais jovens, com menos de 50 anos. Contudo,  isso não é regra!

Pessoas com mais de 50 anos podem ter substrato genético que leve ao Parkinson. Clinicamente, a forma genética e a forma não-genética são semelhantes. Ou seja: os sintomas das duas formas não permitem diferenciarmos uma da outra. 

A doença de Parkinson genética costuma apresentar mais distonia (que são contrações musculares, geralmente no pé) e pode cursar com mais discinesias (movimentos involuntários causados pelos remédios). 

Na prática, não fazemos o teste genético de rotina no paciente, pois isso, não influencia diretamente o tratamento. Essa é uma questão importante: a doença de Parkinson com ou sem origem genética tem o mesmo tratamento, veja aqui.

Se no futuro houver medicamentos que atuem de forma específica em determinados subtipos genéticos da doença de Parkinson, será interessante fazer o teste genético das pessoas.

Quais fatores ambientais estão associados à doença de Parkinson?

Fatores ambientais como traumatismo craniano, exposição a pesticidas, baixo nível de ácido úrico e alto consumo de laticínios foram associados a maior risco de uma pessoa desenvolver Parkinson. Vale lembrar que são estudos epidemiológicos, portanto não têm o poder 100% de afirmar de forma absoluta uma relação causa-efeito. 

Por outro lado, a exposição à cafeína, o tabagismo, o uso de anti-inflamatórios e aspirina foram associados a uma menor chance de desenvolver a doença. Obviamente, a pessoa não deve fumar em hipótese alguma, mas conhecermos potenciais fatores protetores pode nos ajudar a compreender cada vez mais a causa do Parkinson.

Atualmente,  sabemos que fatores associados aos hábitos de vida são os mais promissores para reduzir a chance de uma pessoa ter Parkinson. Uma dieta balanceada e a prática regular de atividade física reduzem a chance de uma pessoa desenvolver Parkinson no futuro. 

Estudos também mostraram que o consumo regular de flavonoides pode reduzir o risco de uma pessoa desenvolver Parkinson. Essas substâncias estão presentes em frutas como uva, morango, maçã, framboesa; em vegetais como brócolis, espinafre, couve e cebola; em cereais e sementes, como nozes, linhaça; além de estarem presente em bebidas como o vinho tinto, chá preto e café. 

Um estudo publicado na importante revista americana Neurology mostrou que um consumo regular de flavonoides reduziu a chance em 40% de uma pessoa desenvolver Parkinson. Outro estudo mostrou que altos níveis de vitamina D estão associados a menor chance de desenvolver Parkinson. 

Além disso, diversos estudos recentes apontam que a dieta mediterrânea reduz a chance de doença de Parkinson, muito provavelmente por melhorar a microbiota e a flora intestinal, atuando também de forma anti-inflamatória. 

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A dieta mediterrânea está associada a um menor risco de doença de Parkinson. A dieta tem como base o consumo de mais vegetais e gorduras monoinsaturadas, como azeite de oliva, ao mesmo tempo em que se consome proteína magra, incluindo frango ou peixe com alto teor de ômega-3, como o salmão. A dieta também prioriza o consumo de frutas, nozes, grãos e feijão.

Baseado no que discutimos, podemos concluir sobre a causa da doença de Parkinson:

  • O principal fator de risco associado à doença é a idade. 
  • Fatores genéticos e ambientais também participam. 
  • Apenas 10% das pessoas com Parkinson têm a doença geneticamente determinada.
  • Aumentam a chance de ter a doença: trauma craniano, exposição a pesticidas, baixo nível de ácido úrico e alto consumo de derivados de leite.
  • Reduzem a chance de ter a doença: atividade física regular, dieta balanceada, dieta mediterrânea, consumo de flavonóides, cafeína, o tabagismo (embora jamais alguém deva fumar!), o uso de anti-inflamatórios e aspirina, vitamina D.
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* tabagismo = jamais fumar.

Na prática: pessoas que têm um familiar acometido com a doença de Parkinson não devem sair por aí tomando anti-inflamatórios, aspirina, ou vitamina D. Essa não é a mensagem principal. 

O principal é conhecer os fatores de risco e protetores para podermos orientar as pessoas sobre hábitos de vida saudável e aconselhamento adequado como dieta balanceada e atividade física. Esse é o segredo. Na dúvida, converse com seu neurologista.

Fontes:

Serum vitamin D and the risk of Parkinson’s disease. Arch Neurol. Paul Knekt et. al.

Habitual intake of dietary flavonoids and risk of Parkinson disease. Neurology. Gao et. al. 

Environment, Lifestyle, and Parkinson’s Disease: Implications for Prevention in the Next Decade. Movement Disorders. Marras et al.

Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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Dr. Rubens Cury Neurologista
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