A estimulação elétrica não-invasiva pode ser usada no tratamento de Alzheimer?

Postado em: 10/11/2023

Um novo estudo, publicado na revista Nature Neuroscience, destacou a estimulação elétrica cerebral como uma alternativa para o tratamento futuro da doença de Alzheimer. A técnica utiliza campos elétricos de múltiplas frequências para estimular neurônios no hipocampo, região do cérebro envolvida na formação, armazenamento e recuperação de memórias.

A estimulação elétrica não-invasiva pode ser usada no tratamento de Alzheimer?

Conforme explicado pelos pesquisadores, os neurônios se comunicam por meio de sinais elétricos, e o Alzheimer afeta a comunicação entre os neurônios do hipocampo, localizados no lobo temporal do cérebro. A eletroestimulação não-invasiva emerge como uma maneira de corrigir esses desequilíbrios na atividade elétrica, oferecendo potencial para tratar doenças cerebrais, incluindo o Alzheimer. O grupo argumenta que os eletrodos implantados podem monitorar a atividade e transportar pequenas correntes elétricas.

Antes de tentar atingir remotamente o hipocampo com campos elétricos, os cientistas realizaram experimentos cerebrais post mortem para confirmar a viabilidade do experimento. Em seguida, aplicaram a estimulação em 20 voluntários sem sintomas de Alzheimer enquanto memorizavam conjuntos de rostos e nomes, tarefa que requer a atividade do hipocampo. Repetindo o processo com outros 21 voluntários por 30 minutos, constataram que a técnica melhorou o desempenho da memória.

O ensaio foi liderado pelo Dr. Nir Grossman, Dra. Inês Violante e pela equipe do UK DRI no Imperial College London e na Universidade de Surrey.

São resultados preliminares e não devem ser utilizados na prática, apenas em âmbito de pesquisa científica!

Estimulação elétrica no combate ao Alzheimer

Agora, os pesquisadores buscam testar se o tratamento repetido com estimulação ao longo de vários dias pode beneficiar pessoas nos estágios iniciais da doença de Alzheimer. Um novo estudo incluirá participantes a partir dos 50 anos com comprometimento cognitivo leve. 

O próprio grupo reconhece que esse conhecimento é fundamental para desenvolver estratégias individualizadas para tratar ou retardar o surgimento de doenças. A expectativa dos autores é que o estudo ajude a aumentar a disponibilidade de terapias de estimulação cerebral e reduza drasticamente custos e riscos, representando um passo importante em direção a uma abordagem mais acessível e segura para o tratamento do Alzheimer.

Potencial da estimulação elétrica cerebral

Em 2021, um estudo da Universidade da Califórnia, publicado na revista Nature Medicine, indicou que a estimulação elétrica no cérebro pode ter um efeito antidepressivo, desde que os choques sejam adaptados ao humor e sintomas específicos de cada paciente.

Já em 2022, cientistas descobriram que é possível aumentar a memória através de estimulação elétrica, o que pode ser benéfico para pacientes com Alzheimer. Essas descobertas foram publicadas na Nature Neuroscience. O método envolve o uso de uma touca cheia de eletrodos e uma corrente elétrica para modular as ondas cerebrais em regiões específicas.

O que é o Alzheimer?

O Alzheimer representa a forma mais comum de demência, caracterizando-se como uma doença neurológica que se manifesta inicialmente por meio de falhas na memória e pode, progressivamente, levar a pessoa à perda de independência e da capacidade de interagir com o ambiente.

De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), a idade é o principal fator de risco para essa forma de demência. Após os 65 anos, o risco de desenvolver a enfermidade dobra a cada cinco anos. Embora as mulheres apresentem uma probabilidade maior de ter o distúrbio do que os homens, essa disparidade pode ser atribuída à longevidade feminina.

Outros fatores de risco incluem hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, depressão e sedentarismo. O histórico familiar desempenha papel relevante, especialmente se houver parentes que tenham manifestado a doença precocemente, ou seja, antes dos 65 anos.

Exames laboratoriais e de imagem são empregados para excluir outras causas que possam influenciar o comportamento do indivíduo, como tumores e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). A precisão no diagnóstico é crucial para um tratamento adequado e a implementação de estratégias que visem melhorar a qualidade de vida dos pacientes com Alzheimer.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e Tremores

Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
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