O que é distonia?
Postado em: 17/08/2021
Distonia é um distúrbio do movimento caracterizado por contrações musculares involuntárias, que acabam levando a movimentos e posturas anormais. Essa contração involuntária pode ocorrer em diversas partes do corpo, como na face, no pescoço, nos braços e nas pernas.
A distonia pode acometer crianças ou adultos. Em crianças ela pode se manifestar de forma generalizada, ou seja, acometer diversos segmentos do corpo.
Já nos adultos em geral ela é localizada, ficando restrita a apenas um local.
Quais os principais tipos de Distonia?
Blefaroespasmo: Distonia que ocorre nos olhos. Em suma, o indivíduo tem contração excessiva dos músculos dos olhos, fazendo com que eles fechem de forma involuntária. Em situações de estresse, ou mesmo a exposição à luz do sol, há piora das contrações e às vezes, a pessoa mal consegue enxergar.
Costuma acometer homens e mulheres em torno de 40 a 50 anos de idade.
Distonia cervical: Distonia que acomete o pescoço. A pessoa tem contração involuntária dos músculos do pescoço; como se fosse um torcicolo. A contração pode levar o pescoço pra frente, pra trás ou pros lados. Além disso, pode haver dor muscular associada.
Distonia da mão e câimbra do escrivão: Distonia que acomete os braços, e mais comumente as mãos. A mão flexiona, sem o indivíduo querer. Isso ocorre geralmente na realização de algum movimento, como pegar um copo, abotoar uma camisa, ou mesmo escrever.
Em algumas situações essa contração aparece apenas quando ela escreve. A isto, denominamos câimbra do escrivão. A letra começa a ficar ruim, como se estivesse tremida. O indivíduo precisa de um um esforço a mais para escrever.
Distonia das pernas e pés: Distonia que acomete as pernas, e mais comumente os pés. Geralmente se inicia quando a pessoa está andando, ou mesmo correndo; em crianças, durante a educação física, a professora pode notar que a criança entorta o pé quando corre.
Em repouso melhora.
Distonia do tronco: Distonia que acomete o tronco; faz com que a coluna fique contraída para frente, ou mesmo para o lado. A família nota que a pessoa está “andando mais torta”.
Lembre-se: as distonias podem ser localizadas, ou seja, acometerem apenas uma região, como o pé. Ou serem generalizadas, acometendo diversos segmentos do corpo.
Qual a causa da Distonia?
As distonias podem ser genéticas ou adquiridas.
As causas genéticas geralmente se iniciam na infância ou adolescência. Começam em uma região do corpo e podem generalizar. Há alguns genes já descobertos. Os mais frequentes no Brasil são: DYT-1, DYT-5 e DYT-6. Esses testes genéticos podem ser feitos com orientação médica.
As causas adquiridas são secundárias a algum dano cerebral. Exemplo: trauma cerebral, uso crônico de alguns remédios, tumor cerebral, derrame ou acidente vascular cerebral, paralisia cerebral, entre outras.
Como é feito o diagnóstico da Distonia?
O diagnóstico inicialmente se baseia em uma história detalhada feita pelo neurologista. Essa história inclui perguntas como: Como os sintomas se iniciaram? Quais partes do corpo são acometidas? Há outros familiares com os mesmos sintomas? Houve exposição a alguma medicação? Algum trauma?
Além da história clínica, o exame de eletroneuromiografia pode ser necessário. Esse exame é realizado nos músculos do corpo com uma pequena agulha que irá detectar se há movimentos involuntários, quais músculos estão acometidos, e qual intensidade.
Em alguns casos, exames de sangue e de imagem, como ressonância do cérebro, podem ser úteis.
Como é feito o tratamento da Distonia?
O objetivo do tratamento das distonias é se baseia no alívio das contrações musculares, revertendo os movimentos e as posturas anormais e a dor associada, além de prevenir contraturas e deformidades.
A toxina botulínica (popularmente conhecida como Botox) representa uma opção reconhecida para este tratamento, sendo considerada o tratamento de escolha na maioria das distonias.
O racional de aplicar toxina é lógico: ela relaxa a musculatura. E como nas distonias existe uma ativação muito grande dos músculos, após a aplicação há uma melhora significativa dos sintomas.
Ela pode ser aplicada em qualquer lugar acometido pela distonia, como nos músculos dos olhos por exemplo:
Além da toxina, opções medicamentosas também são utilizadas, e novamente visam relaxar o músculo afetado. Geralmente associamos fisioterapia, e técnicas de relaxamento da musculatura acometida.
Além disso, existem terapias específicas para cada tipo de distonia. Abaixo mostramos técnicas de biofeedback e treino muscular realizado em um paciente com distonia da mão.
Por fim, em casos mais graves, a Estimulação Cerebral Profunda ou DBS é uma opção.
A cirurgia para distonia pode estar indicada se o uso dos medicamentos e/ou outras estratégias de tratamento como a aplicação da Toxina Botulínica não forem suficientemente capazes de aliviar os sintomas motores da Distonia, como contraturas musculares dolorosas e movimentos que possam estar gerando deformidades e incapacidade, dificultando suas atividades do dia a dia.
Em outras palavras: a cirurgia de DBS é indicada em pacientes com distonia que já tentaram tratamento medicamentoso e toxina botulínica, sendo que mesmo assim, permaneceram com importante comprometimento da função motora e da qualidade de vida.
Os detalhes sobre a cirurgia podem ser lidos aqui.
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A abordagem do paciente com distonia envolve uma história detalhada e solicitação de alguns exames como eletroneuromiografia, exame de sangue, e às vezes teste genético. O tratamento pode ser feito com toxina botulínica e medicações específicas. Em casos mais graves, a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (DBS) pode ser bastante eficaz.
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Fonte
A therapy-led, multidisciplinary programme for treatment-resistant functional fixed dystonia. Hsieh et al. BMJ Case Reports.
Artigo escrito pelo Dr. Rubens Gisbert Cury
Médico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation).
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Rubens Cury Neurologista especialista em doença de Parkinson e TremoresMédico Neurologista especialista em doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia, e Estimulação Cerebral Profunda (DBS, deep brain stimulation). Possui doutorado em Neurologia pela USP, pós-doutorado em Neurologia pela USP e Universidade de Grenoble, na França, e é Professor Livre-Docente pela USP.
Registro CRM-SP 131445